Deu no Estadão 21/4: “Dilma alega que juros, câmbio e impostos são as principais amarras inibidoras do nosso desenvolvimento”.
Acredito que a reportagem tenha omitido parte do discurso da nossa Presidente. Caso contrário, estamos diante de um precário diagnóstico.

Os três fundamentos são inertes por si. Sintetizam o desempenho, a prática e a dinâmica de diversos fatores econômicos, políticos e sociais. Estas sim, causas de melhor ou pior desempenho econômico do país.

Portanto o tema em discussão está no ponto de descobrirmos as causas dos juros “altos”, do câmbio “apreciado” e da “alta” carga tributária. São as bases que determinam os coeficientes dos fundamentos econômicos.

Abordarei esta discussão em três artigos.Primeiro, a distorção da “alta” carga tributária.
Discordo do qualificativo “alta”. Na verdade, o problema pode ser abordado de outra forma:
A carga será percebida “alta” quando:

1) A população e o mercado perceberem que o custeio da máquina pública não atende suas expectativas com relação à qualidade e quantidade de serviços públicos prestados, além de um excesso de funcionários nos órgãos de estado.

2) Os investimentos públicos não atenderem as necessidades prementes da população e dos empresários. Como por exemplo, a falta de rede de esgoto, iluminação, estradas esburacadas, a baixa produção de energia.

3) O custo de produção de bens e serviços, de mesma ou de melhor qualidade, são superiores a de outros países.

Se a percepção aponta para a confirmação de “alta”, quais são as causas destas distorções? Podemos elencar algumas:

1) Má alocação dos recursos públicos.

2) Excesso de burocracia.

3) Incompetência técnica quando da execução de projetos e programas públicos.

4) Alto índice de sonegação, que obriga alguns pagarem por todos.

5) A falta de combate ao crime organizado. Representados pelo tráfico de armas, drogas, roubo de cargas e fraude em licitações ou na sua realização (entregas de bens e serviços fora das especificações estipuladas).

Como corrigir as causas destas distorções?

1) Designar pessoas providas de uma conduta ética e qualificadas tecnicamente para os cargos em comissão. Só assim, estarão garantidas a eficiência de procedimentos e uma melhor alocação de recursos. Governo sério não atende os partidos das bases governistas ou aliadas, que extrapolem estes fatores (técnica e ética). Obediência do princípio da impessoalidade.

2) A arrecadação deve obedecer aos princípios da equidade, pela qual todos recolhem os devidos tributos na mesma proporção. Neste caso vale a experiência paulista em arrecadar por estimativa na primeira fonte de produção. Os impostos que presumivelmente poderiam ser arrecadados pela distribuição, é arrecadado na porta da fábrica ou no cais do porto. Nesta condição o comércio fica sem possibilidade de sonegar os impostos estaduais.

3) Oferecer condições de trabalho e aparelhamento de nossas forças militares e policias, faria muita diferença. Proteção de fronteira, inibiríamos o contrabando e as drogas.

4) A punibilidade severa e rápida dos membros do crime organizado seria outra forma de combate às nossas mazelas.

5) Equilibrar a concorrência predatória oriunda de países praticantes do trabalho escravo ou de emprego vil seria mais uma atitude saneadora. Protegeríamos nossos empregos e a indústria brasileira.

6) A reforma tributária e da previdência social no sentido de desonerar a folha de pagamento, aplicando mais impostos no consumo, renda e na transmissão de fortunas.

No próximo artigo abordaremos os “altos” juros. Como poderemos perceber estará interligado a diversos fatores, acima mencionados.

Ronaldo Bianchi

Saí da TV Cultura neste começo de abril de 2012. Interrompo, mais uma vez, minha carreira pública. Passo a dirigir executivamente a Animus Consultoria.

Foi uma decisão planejada há tempos. Saí por minha conta e risco, sem pressão. Deixo o cargo ganhando muitos amigos.

Minha história com o setor público é antiga: data de 1975. Participei da implantação da FUNDAP- Fundação do Desenvolvimento Administrativo. Iniciei como estagiário e terminei como técnico. Foi uma maratona de 365 dias: definir a estratégia, alugar a sede, contratar pessoas e serviços, comprar toda a mobília. Uma incrível aventura. Quando implantada, saí.

Trabalhei vinte anos na área metalúrgica em uma empresa familiar. Enfrentamos o cartel do alumínio, a desapropriação de nossa sede, a inflação desenfreada, o movimento sindical ensandecido, a prepotência fiscal, as macro/micro desvalorizações do dólar, a crise de crédito e os planos econômicos empacotados goela abaixo. Encaramos todos os desafios para manter a empresa à tona, como uma pequena indústria nacional, nos seus aspectos particulares em termos de tecnologia e recursos humanos, enfrentando as disfuncionalidades e assimetrias do mercado.

Por outro lado, colaboramos na implantação da Valesul Alumínio, uma solução estatal para um problema crônico do desabastecimento planejado. Criamos uma unidade sindical patronal para a defesa de nossa indústria de transformação. Porém, a apreciação do real foi a gota d’ água que nos fez desistir da empresa. Fizemos história dentro desse processo.

Voltei ao setor público em fevereiro de 1997, para o cargo de gerente do Memorial da América Latina. O principal desafio foi implantar o sistema de cargos e salários e preparar o concurso público. Além disso, implantamos uma unidade de captação de recursos de leis de incentivo.
A partir destes aprendizados, consegui ser admitido como superintendente geral do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foram nove anos de trabalho intenso e comovente. Nossa equipe, liderada por nossa presidente e seu vice, fez história a partir de experiências inovadoras nas áreas educativas, de captação e de gestão de museus. De outra forma, mas com igual intensidade, participei da gestão do Itaú Cultural.

A partir de 2007, aceitei o convite para ser vice do João Sayad na Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Por lá, trabalhei durante quase os quatro anos de governo. Como das outras vezes, fiz a experiência ser profunda. Jogamos-nos de corpo e alma no processo. Realizamos projetos como o novo MAC no DETRAN, criamos nove centros culturais na periferia de São Paulo e doze organizações sociais, além de corrigir a estratégia das onze então existentes. Implantamos a Lei de Incentivo do Estado à Cultura, reformamos todos os museus do estado, reformulamos o ensino musical e corrigimos a forma de contratação de 4.500 pessoas das OS. Terminamos nosso processo por contingências políticas.

A partir de julho de 2010, o Sayad e eu partimos para a direção da TV Cultura, organização combalida por 15 anos de administrações equivocadas. Corrigimos as contratações de pessoal, o processo decisório e os erros processuais. Implantamos sistemas modernos de contratações de bens e serviços, sistemas de avaliação de resultados e indicadores de produtividade. Foram três novas grades de programação em dois anos. Haja coração.

Com a casa em ordem, pude sair. Agora, sigo meu caminho acompanhado de colegas, para realizar o que ofereço de melhor: auxiliar organizações e seus dirigentes a alcançar resultados expressivos, alterar os descaminhos e dar ordem à desordem.

Ninguém faz sucesso sozinho. Por isso, aqui vão meus eternos agradecimentos aos seguintes, por ordem cronológica profissional:
Dalmo do Valle Nogueira Filho (meu anjo da guarda), Roberto Puccia Bianchi (meu irmão), Fábio Magalhães (o cara que mais confia no meu taco), Milu Villela (minha inspiração), Alfredo Setúbal (sinônimo de correção) e João Sayad, pela amizade e confiança em compartilhar momentos de nossas vidas.

Sem dúvida nenhuma, agradeço a todos os meus queridos colegas de todas as organizações de que participei, pela tolerância e compreensão por atos que pratiquei a favor do trabalho em equipe. Nesta condição, quero registrar meu apreço aos colegas da TV Cultura, nomeando alguns e com os olhos a todos: Claudia Toni, Fernando Vieira de Mello, Fernando Almeida, Mônica Teixeira, Tane Yamaio, Vitória Boldrin, Juliana Steinhart, Márcio Amorim e Alexandre Rangel.

Ronaldo Bianchi