Em dado momento dos anos 70, o ensino das expressões culturais deixou de ser relevante na escola formal. As aulas de educação artística, onde a música era o ícone, foram paulatinamente sendo suprimidas em termos de horas-aula até a sua exclusão.

Cabe a reflexão. Seria falta de professores? Seria uma atitude política para os alunos não “pensarem” muito, pois vivíamos numa ditadura?

Por que será que não reiniciamos o ensino de arte nas escolas após o regime militar? Afinal passaram-se 23 anos. Relembrando, o período democrático atual, que vai de 1986 até os nossos dias, equivale em tempo à ditadura, transcorrida de 1964 a 1985. O que fizemos? Não dá mais para debitar aos militares o desprezo pelas artes, não é?

Neste período democrático, a Secretaria do Estado da Cultura (fundada em 1979, em pleno regime militar) criou a Escola Tom Jobim, em 1990, e o Projeto Guri, em 1995; dinamizou as Oficinas Culturais (criadas em 1983, no Governo de Franco Montoro); e possibilitou à Orquestra Sinfônica instituir a sua academia de ensino em 2007.

A Secretaria da Educação será obrigada, por lei, a implantar o ensino musical nos próximos anos.

Teremos professores para atender a obrigação legal?

O fato real é o atraso: não conseguimos implantar de forma permanente o ensino de teatro, música e dança. Acredito que esse será o maior desafio dos próximos anos, seja na esfera do nosso Estado, seja na esfera federal.

Por que ensinar essas práticas?

Os jovens precisam aprender pelo menos essas três expressões artísticas pelos seguintes motivos:

1 – Exercem nos jovens o processo de desinibição;
2 – Ampliam o ensino de repertório;
3 – Aceleram a sociabilidade e respeito ao próximo;
4 – A sua prática contínua desenha o sentimento de realização e sucesso.

O Governo de São Paulo entregará, até novembro 2010, nove fábricas de cultura na periferia de São Paulo (leia a relação ao final deste artigo), para que os jovens dessas regiões possam desenvolver esse conhecimento.

Esperamos que eles:

1 – Estejam preparados, no futuro, para encontrar um destino promissor nas profissões que abraçarem;
2 – Sejam líderes de suas comunidades;
3 – Sejam melhores pessoas em seus relacionamentos;
4 – Estejam credenciados para enfrentar seus desafios com serenidade, foco e auto-estima.

Todas as escolas públicas deste país deveriam estar equipadas para o desenvolvimento da arte, aperfeiçoamento em música, teatro e dança. Será o maior desafio da área da Cultura e da Educação para com a sociedade brasileira e seus cidadãos.

Abaixo a relação das localizações das fábricas de cultura (5 mil m² cada uma):

Jaçanã;
Capão Redondo;
Cidade Tiradentes;
Sapopemba;
Cachoeirinha;
Distrito São Luiz;
Itaim Paulista;
Vila Curuçá;
Brasilândia.

Ronaldo Bianchi

A Secretaria de Estado da Cultura fecha 2009 com todas as construções, reformas e adequações de edifícios a todo vapor para que a cultura do Estado avance nos próximos dez anos.

Estão em construção, na periferia de São Paulo, nove centros culturais denominados Fábricas de Cultura. Serão os primeiros. O próximo governo deveria estender às grandes cidades do Estado este programa que conta com atividades de música, dança e teatro para jovens moradores de nove regiões com baixos indicadores sociais na Capital – Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Sapopemba e Vila Curuçá (zona leste); Brasilândia, Cachoeirinha e Jaçanã (zona norte); Capão Redondo e Jardim São Luís (zona sul). Serão equipamentos culturais de 6 mil m², em média, com diversos espaços de múltiplo uso e salas específicas para a prática de teatro, dança, música e circo, sala de audiovisual, ateliê de artes plásticas, oficina de cenografia e figurinos, biblioteca e um amplo e totalmente equipado teatro.

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) ganha casa nova em 2010. O acervo, um dos mais importantes dos movimentos Modernista (1910-1945) e Contemporâneo (1945 até a atualidade), será abrigado em uma área de mais de 35 mil m2 – sendo um dos maiores museus do mundo.

A Biblioteca de São Paulo, que será inaugurada no Parque da Juventude, zona norte da Capital, será a sede do Sistema Estadual de Bibliotecas, além de um espaço de incentivo e promoção pelo gosto pela leitura entre os paulistas.

Na parte de programas e projetos, a Secretaria de Estado da Cultura ofereceu, ao longo do ano, em parceria com os municípios, diversas atividades culturais em mais de 135 cidades. A Virada Cultural Paulista, por exemplo, foi realizada em 20 cidades do Estado e atendeu mais de 1 milhão de pessoas. Durante o ano, mais de 700 atrações circularam gratuitamente por meio do Circuito Cultural Paulista. Escritores renomados como Moacyr Scliar foram convidados a participar de debates e oficinas em 55 bibliotecas do Estado. Resultado: mais de 25 mil pessoas participaram do Viagem Literária, programa que tem como meta estimular a leitura.

Ainda no campo da literatura, a Secretaria concedeu, pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio São Paulo de Literatura, a maior premiação da literatura brasileira. Ainda, realizou o Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos. A SEC também promoveu o Festival Paulista de Circo, o Festival de Teatro Infantil, o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o Cena Musical Independente, o Oferenda Musical, o Coreto Paulista, a 3ª Semana da Canção Brasileira e apoiou a realização do 16º Festival de Artes de Itu.

Dos programas continuados, vale destacar o Vá ao Cinema que atingiu números recordes em 2009. O programa que visa à distribuição gratuita de ingressos, válidos para filmes nacionais, destinados, principalmente, a alunos do ensino médio de escolas da rede pública, atingiu um público de mais de 2,1 milhões de pessoas. O Vá ao Teatro, realizado pela primeira vez em 2009, vendeu, de outubro a novembro, mais de 50 mil ingressos a preços populares.

Por último, o que mais nos orgulha é a reformulação realizada no Projeto Guri, tanto no que diz respeito à parte didática como na área administrativa. O Guri continua administrado pela Associação dos Amigos do Projeto Guri para alunos da Baixada Santista e Interior. Já a Santa Marcelina Cultura atende aos alunos da Grande São Paulo. A divisão existe para melhorar o atendimento aos alunos. Todos os novos professores foram avaliados e tiveram suas carteiras de trabalho assinadas. Em todo o Estado, são 47 mil jovens atendidos pelos Guris.

Essa mesma reformulação ocorreu com o Conservatório de Tatuí e na Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim. Os prédios foram reformados, os professores contratados pelo regime da CLT e novos currículos implantados. A área de formação musical sofreu uma reformulação profunda e os frutos estão sendo colhidos a partir de agora. Fica a satisfação de um ensino primoroso.

Ronaldo Bianchi