A COMUNICAÇÃO BRASILEIRA I

Há 60 anos fazemos televisão no Brasil. A primeira foi a TV Tupi, idealizada por Assis Chateaubriand e instalada em São Paulo. Por que Chateaubriand foi o pioneiro? Esse empreendedor havia criado o maior complexo brasileiro de comunicação, sendo o mais ousado empresário da área.

A partir de um único jornal, criou uma cadeia de jornais que abrangia as principais capitais brasileiras. Formou, posteriormente, a maior cadeia de rádio até o final da década de 40. Os Diários Associados determinavam sobre o que a população deveria ser informada.

A mídia impressa nunca dependeu de autorização governamental para sua veiculação. Por outro lado, o sistema de radiodifusão já foi a priori estabelecido como uma concessão do Estado. A liberação de uma estação dependia sempre da disponibilidade de “vaga” no “dial”, ou seja, de um lugar dentro da banda: AM, depois FM. Naquele instante, estávamos definindo quem podia mais. Não havendo licitação pública (concorrência a partir de um edital público) para concessão, a dádiva seria ofertada àquelas empresas com poder de “fogo” ou a grupos políticos, ou mesmo a um político mais próximo do poder concedente.

O que seria poder de “fogo”? As empresas jornalísticas de mídia impressa que usufruiriam da capacidade de formar opinião sobre os atos do governo de plantão. Essas empresas estavam próximas de três vertentes:

•    Sociedade
•    Anunciantes, ou seja, do mercado. Leia-se mundo empresarial
•    Mundo político (situação e oposição)

Dessa forma, estender suas atividades à nova forma de difusão (rádio) foi um passo tecnológico mais expressivo do que formar conteúdo para o novo veículo.

O rádio rapidamente incorporou o jornalismo, a música, a dramaturgia e os esportes ao seu conteúdo. A cada opção, uma forma diferente de apresentação. A princípio, ao vivo. A Rádio Nacional, Tupi, Globo, Panamericana e Bandeirantes representavam cada uma, o que no futuro seria a concessão das televisões.
Os Diários Associados foram os pioneiros da televisão. Para uma divertida e bem organizada apresentação, recomendo que assistam os documentários “TV 60” na TV Cultura. Aqueles que não assistiram as primeiras apresentações poderão comprá-la consultando o site da Fundação Padre Anchieta. São imperdíveis.
Voltando ao tema, fica claro que a linha jornal impresso, concessão de rádio e depois de televisão seguiram a lógica do poder de ataque congregado com o poder político.

Quem ganhou e quem perdeu? Vamos pouco a pouco explorando esse assunto até os nossos dias. Nos últimos tempos tem apresentado momentos vibrantes, refletidos nas tentativas do governo federal de estender sua área de influência. Passando pela revisão da concessão pública de canais e rádios para o “controle social” do conteúdo. Se essa não foi a intenção, a forma foi equivocada em sua apresentação. Deflagrou uma das maiores apreensões políticas depois do golpe militar de 1964. Chegaremos lá!

Ronaldo Bianchi

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