A COMUNICAÇÃO BRASILEIRA VI
A televisão concessionária privada brasileira “comeu o pão que o diabo amassou” em seus primeiros anos de existência. Além do alto investimento no processo tecnológico e em produção, havia um terceiro obstáculo relevante: falta de audiência. Os aparelhos eram importados e a imagem preto e branco. As primeiras transmissões foram vistas, no máximo, por uma ou duas centenas de aparelhos. Se comparado aos jornais, revistas e rádios, o sistema de televisão levaria uma dezena de anos para se realizar como investimento viável.
O foco do pioneiro era acelerar ao máximo a importação de aparelhos e a sua divulgação como uma nova forma de diversão e informação. Um agente facilitador da importância da televisão se deu pelo fato de muitas empresas locais serem filiais de corporações americanas, onde o sistema já se encontrava amadurecido e receptivo ao novo meio de comunicação, além das agências de propaganda americanas operando no Brasil. A empresa Ford chegou ao Brasil na década de 20, no século passado e, da mesma forma, empresas do ramo de alimentos, higiene e comércio. O volume do empreendedorismo americano, naturalmente acelerou-se após o término da Segunda Guerra Mundial no século XX. Ao seu término, empresas de matéria-prima começaram a criar suas filiais brasileiras, pois já vislumbravam oportunidades que a própria guerra suscitou, bem como os aspectos demográficos brasileiros. A população brasileira estava urbanizando-se e crescendo a taxas acima da média mundial. As empresas de consultoria associadas às da indústria, comércio e serviços apoiaram a “invasão” americana via importação ou instalação de unidades fabris e comerciais.
A evolução da televisão estava atrelada à expansão do número de televisores nos domicílios e das oportunidades que as agências de propaganda vendiam ao mercado. Por esse ângulo, afirmamos que o sistema também venceu. Em outras palavras, a televisão foi adotada pela população que se urbanizava e pelos anunciantes.
O tempo confirmou agradáveis surpresas como: a criatividade das agências, a programação atraente e a penetração do sistema em rede (nos dois maiores mercados – Rio e São Paulo).
A era da televisão chegou para ficar nos anos 60. A partir dessa década, as emissoras concentraram-se em esportes, dramaturgia, musicais, filmes e seriados. Esses últimos nasceram no cinema na década de 30, mas com o advento da televisão, tornaram-se uma alternativa singular, proporcionando à platéia, emoções a cada episódio e deixando ao final, o suspense para o episódio seguinte. Hoje, ainda é a fórmula adotada. A “invasão” americana aconteceu por meio dos filmes e seriados. Quem com mais de 50 anos não acompanhou “Gorki, o menino do Circo”, “As aventuras de Rimtimtim”, “Roy Rogers”, “Bat Masterson” entre outros?
Enquanto os americanos forneciam seriados e filmes, os anunciantes se faziam presentes também nas produções nacionais. As empresas de bebidas, cigarros, alimentos, vestuário, linha branca (fogão, geladeira) e marrom (televisão, rádio, vitrola e gravador), empresas do varejo, bancos e financeiras passaram a apostar maciçamente em recursos de propaganda para a televisão.
Os anos de ouro antecedem os canais a cabo e a internet. As novas tecnologias quebraram o equilíbrio das concessionárias e, hoje, a instabilidade se avoluma pela desregulamentação da web, aliada ao aumento de velocidade da sua banda.
O fator estratégico da concessão passa a ser secundário caso a web de alta velocidade for implantada com a mesma desenvoltura dos antigos televisores de tubo branco e preto. O fator estratégico será a construção do conteúdo. Desse modo, uma audiência atualmente de 30%, não acontecerá mais no novo sistema. Haverá uma dispersão de audiência, fruto do avanço tecnológico que, por sua vez, liberta a audiência da escolha restrita a poucos canais. Existirão inúmeros novos canais com programação diversificada.
Por essas e outras, a publicidade nas organizações de televisão pública passará a ser um fator importante. Ou seja, o sistema público precisará de uma massa expressiva de recursos para produzir, por certo a transmissão não será mais fator estratégico. O que vimos como um suplemento vitamínico passará a ser seiva para o núcleo da nova vida da televisão pública. Quem vai encarar? O Estado investirá com ou sem o consórcio do mercado? O que será essa nova produção e programação? Respostas não conclusivas serão temas dos próximos artigos.
Ronaldo Bianchi
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