O BRASIL E O DESENVOLVIMENTO II

Quando terminei o artigo anterior sobre o desenvolvimento brasileiro, indiquei o ordenamento do dólar como primeira medida. Precisamente, o alvo é desvalorizar o Real frente ao Dólar, cotado, há meses, entre R$ 1,60 – R$ 1,66 por US$ 1.00. Mantida essa situação, continuamos a abrir nossas portas à especulação financeira, à destruição da indústria de manufatura, ao empobrecimento da agricultura de exportação e à redução dos salários das áreas de melhor remuneração. A pergunta que fica no ar é: para quem interessa o dólar a R$ 1,60? Por que não se toma decisões para ampliar a nossa capacidade industrial ou para dirigir os recursos no sentido de modernizar nossa infraestrutura?

Para valorizar o Real, o governo federal deveria:

1. Aumentar as alíquotas de importação para bens industriais em todas as frentes de bens de consumo, ficando fora os bens industriais.

2. Taxar as remessas internacionais dirigidas à especulação financeira e, da mesma forma, ampliar gradativamente a taxação até que o valor do dólar voltasse a um patamar superior a R$ 2,00.

3. Criar uma alíquota para exportação de commodities não desvalorizadas. Não seria difícil regular sua flexibilidade. Como são itens cotados em bolsa com valor futuro, manobrar as alíquotas para cima ou para baixo, dados os instrumentos atuais, teria sua eficácia garantida.

4. Ampliar o prazo de saída de capital especulativo. O dólar, nas condições atuais (real apreciado e governo titubeante), interessa: a) às tesourarias dos bancos que cobram pelos seus serviços, às aplicações em empréstimos de curto prazo em bolsa de valores, a capital de giro e títulos do governo; b) aos importadores de bens de consumo das áreas têxtil, de calçados e de montadoras de veículos, que escolheram o Brasil por sua estabilidade política, jurídica, regulatória, além, é claro, de um mercado em expansão.

5. Reduzir a taxa Selic.
Por que não usamos a poupança externa para expandir nossa capacidade de infraestrutura? A resposta é simples: todos os agentes com essa capacidade não acreditam que o dólar irá permanecer com essa cotação a longo prazo. Acreditam que o real está artificialmente valorizado. Endividar-se em dólar sem estar “assegurado” por alguma operação garantidora (hedge), seria sofrer um golpe negativo relevante quanto às expectativas de resultado de seus investimentos.

Se não desvalorizarmos o real:

1. Destruiremos empregos industriais que exigem um investimento expresso em cada um deles (mais de R$ 100 mil por unidade).

2. Ofereceremos nossos empregos aos asiáticos, sem, ao menos, ganhar nada em troca (taxa de importação superior à atual).

3. Adiaremos nossos investimentos em infraestrutura sem prazo determinado, comprometendo o que restará da nossa indústria e agricultura, que ainda resistem.

4. Comprometeremos os ganhos com a exportação de nossos produtos agrícolas.

5. O governo criará condições para que haja uma taxa inflacionária maior pelo lado do custeio, e não mais pela demanda.

Ronaldo Bianchi

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