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Há pelo menos três fatores que alteram os resultados empresarias: a) o rumo da macroeconomia, onde o empresário não tem controle da situação, como as decisões sobre política fiscal, a política cambial, a política de juros, entre outros; b) a situação do setor ou ramo empresarial, com alguma possibilidade para o empresário alterar seu posicionamento, como a interferência de uma regulação, alteração de legislação, concorrência predatória, crise setorial etc; c) as condições peculiares da empresa, fator de inteira e total responsabilidade do empresário – aqui, as situações adversas podem ser causadas pelos fatores externos, mas no maior número das vezes são usadas como desculpa pelos tropeços da hora. Podemos citar: má aplicação dos recursos, endividamento por má gestão, estagnação mercadológica e tecnológica, processos sucessórios mal conduzidos, desavenças societárias, entre outros.

Quando, então, devemos procurar melhorar resultados?

Sempre. Esteja o mercado em alta ou em baixa. O que normalmente acontece nas empresas é aplicar mal os recursos. Há uma infinidade de livros de autoajuda, livros e fábulas que justificam poupar para o futuro. O que normalmente acontece, e poucos se dão conta, é a volatilidade dos negócios.

Na economia das empresas devemos aplicar um pacote mínimo para criar um cenário positivo de trabalho. Onde a dinâmica da gestão dos processos, recursos humanos e portfólio de produtos é a chave do sucesso. Para que isto aconteça algumas premissas devem estabelecidas:

1) Definição do foco. Uma empresa deve fazer o que tem de melhor. Dar lucro. Oferecer um “faz tudo ou fazemos qualquer coisa que o cliente quiser”, com certeza, não dará certo. Concentre-se no seu melhor e reúna os melhores para realizar as funções dos processos exigidos, para que a oferta de serviços e produtos cumpra com a promessa central da empresa.

2) Atue nos custos, zelando pelo caixa. Tem uma frase eleita como a mandatória da gestão financeira: “O caixa é rei”. Nesta condição a chave está no processo decisório para comprar os insumos, prestação de serviços, realizar investimento, pagar salários e remunerações. Há metodologias que devemos aplicar: a) Criar um orçamento anual com atualização mensal; b) Fazer um fluxo de caixa e c) Criar um comitê de caixa, onde todas as contratações devem ser avaliadas. Retirada dos sócios somente sobre o lucro ou um pró-labore se realmente trabalham e trazem resultados. Empresas que atuam em mercados saturados, com ampla concorrência, não podem ter o luxo de “merecer” excessos.

3) Atue nas vendas com metodologia. Vender para os clientes pagadores, com lucratividade e explorar alternativas para criar novos mercados dentro dos produtos ou serviços da organização. Devem definir conceitos de exploração como: tipologias, áreas geográficas e buscar os melhores padrões para apresentarem o que oferecem. A supervisão das equipes, quando existirem, é mandatória.

4) Incentive as equipes e as pessoas. É “normal” o vendedor encontrar zona de ganhos confortáveis. É neste momento que a supervisão deve avaliar como tencionar a relação, aplicando um conjunto simultâneo de incentivos. Porém, eles devem ser ampliados para todos os centros, unidades e pessoas da organização. Reduzir custos, criar novos produtos e serviços devem ser recompensados.

5) Considere relevante as emoções nos processos de mudança. As pessoas têm sentimentos. Não aplique a todas as mesmas formas de abordagem. Será um fracasso. Investigue, pesquise como abordar cada um de seus colaboradores. Se precisar demitir um grupo, faça-o de uma única vez e explique os motivos para quem saiu, bem como para quem ficou. Reconheça as lideranças informais e respeite a cultura local.

Ronaldo Bianchi

Neste artigo, abordaremos os riscos de processos não desenhados e mal ou não auditados. Os erros, equívocos e desvios são recorrentes em organizações que não aprendem com as mazelas de sua história. Não há fórmula mágica para solucionar problemas de desvio de conduta que não seja a eterna observância inteligente dos processos, resultados e desempenhos. Portanto, sistemas de detecção de sintomas assimétricos devem acionar formas de verificação. Porém, a melhor forma de evitar desvios será contratar talentos que sejam honestos, comprometidos e competentes para todas as funções da organização. Nada fácil, não é?

Vejam como as coisas acontecem, são exemplos reais de desvios na recepção, armazenamento e verificação de estoques.

1. A recepção de matéria-prima de uma empresa envolvia a pesagem de caminhões em balança não eletrônica (não havia balança eletrônica na época). Um dos fornecedores da matéria-prima descobriu que o balanceiro trabalhava sozinho na cabine de balança, e pior, percebeu que sua conduta era negligente (permitia que o motorista e os ajudantes entrassem na cabine). Essa vulnerabilidade permitiu que esse fornecedor aplicasse o “golpe do imã”. Enquanto o balanceiro ajustava a régua da balança para confirmar o peso e imprimir o bilhete de pesagem, um dos ajudantes “aplicava” um “pacote” na cabeça da régua, que continha em sua parte superior, um poderoso imã e na inferior, plaquetas de chumbo. Essa “operação” permitia ao fornecedor, transformar sete em oito toneladas do material que entregava. Esse roubo foi descoberto através de uma denúncia formal. O tio desse fornecedor era seu concorrente. Sabendo da trama e querendo afastá-lo da empresa, o denunciou.

A empresa conseguiu medir o prejuízo causado e, por meio de uma operação policial competente, aprisionou o larápio. Para fugir do processo, quitou o prejuízo presumível da empresa. Essa ocorrência comemorou 30 anos, porém fica o registro de que em todo o processo que envolva recepção de matéria-prima deve estar descrito a forma de recepcionar, pesar e descarregar a carga.

2. A matéria-prima da empresa poderia ser abrigada em um pátio ao ar livre, apesar das intempéries não prejudicavam qualidade do processo de fabricação. Esse fato parecia isento de falhas e economizava o prédio para o seu armazenamento. Ledo engano. Como o pátio se limitava com a rua, um dos funcionários conseguia desviar alguns quilos de matéria prima diariamente durante o terceiro turno (22h00 às 05h00). Os dez quilos diários rendiam 200 quilos/mês ou 2.400/ano. Esse desvio foi descoberto por acaso, quando outro funcionário viu o primo do ladrão carregando o produto do furto num carrinho de pedreiro. Denunciado, foi preso em flagrante. Porém, a empresa nunca descobriu a quantia que lhe foi roubada. Ficou a lição de que cerca não é muro, e o estoque deve ser abrigado em lugar visível, protegido e controlado.

3. Uma cadeia de pequenas lojas não seguiu o princípio da segregação das funções, a gerente mantinha-se distante das verificações de estoque e pagamentos, e a auditoria interna era terceirizada e nunca auditou os 20 maiores fornecedores. O caso é o seguinte: determinada funcionária recolhia mensalmente as informações das vendas em consignação, calculava o montante a pagar de cada fornecedor e enviava as informações ao financeiro para efetuar o pagamento. Acontece que dos 20 maiores fornecedores, cinco deles eram falsos. A referida funcionária conseguira burlar o sistema de controle, introduzindo nomes, dados e estoques falsos. Como conseguiu? Mantendo relações íntimas com o funcionário da empresa de software.

A contrapartida da intimidade foi o destravamento do sistema de checagem dos saldos, estoques e vendas. A fraude só foi descoberta porque a ambiciosa funcionária licenciou-se por motivo de saúde, porém antes que se ausentasse, efetuou a última operação, acreditando que sua substituta não fosse descobrir a trama. O prejuízo da rede de lojas foi de R$ 400 mil durante três anos de desvios e nunca foi recuperado. A ex-funcionária foi demitida por justa causa, julgada e condenada. A empresa de auditoria foi processada, mas conseguiu se eximir da evidente incompetência. Qual o fim das empresas? Por diversos motivos, as duas primeiras empresas não existem mais, uma faliu e a outra fechou. A rede de quatro lojas transformou-se em um único ponto de venda.

Fica a lição de que não há organização sadia sem um mapa de risco, equipe comprometida e sistemas a serem auditados com competência.

Ronaldo Bianchi

Quando uma empresa se propõe a um relacionamento pós venda com seus usuários, a responsabilidade para o êxito começa com a prestação do serviço contratado e termina com a entrega da recompensa prometida. São fatores de sucesso para uma empresa aérea: a percepção por preços justos, condições de entrega na conformidade, atendimento competente e condições higiene satisfatórias.

Vejam o que o fornecedor TAM entregou para mim e minha família nestes últimos quatro momentos.

1)Fui para Blumenal a trabalho ano passado. O aeroporto localiza-se na vizinha Navegantes. Tudo ocorria bem, até a chegada ao “terminal” de Blumenal. As codições eram deploráveis. Ambiente descoberto, o solo composto por pedriscos e as malas forma amontoadas pela “tripulação” do onibus. Os clientes locais e habituais entendem como normais esta condição? As rodinhas das malas cravam no solo e as arrastamos. Imaginei a operação com chuva. O desabrigo a abrigo, a lama. Fiquei perturbado. Consegui terminar meu trabalho antes do prazo. Solicitei à TAM antecipação de vôo, porém cobrou uma multa de duzentos reais, aceitei. No aereoporto de Navegantes fomos informados, após duas horas de atraso, que nosso vôo fora cancelado. Iríamos ser transferidos para Curitiba e às 4 horas da manhã do dia seguinte chegaríamos em SP. Decidi voltar de ônibus. Chegaria antes, sem escalas, dormindo. A TAM não quis cancelar a multa imposta, apesar dos serviços não prestados. Protocolei um documento do cancelamento. Avisei a operadora do cartão para extornar a fatura enviando cópia da documentação. A TAM não aceitou o cancelamento, cobrou a fatura por serviços não realizados. O banco não pagou.

2)Minha esposa e minha filha foram para Orlando, FL, via TAM, em setembro de 2011. O sistema disponibilizou duas cadeira ao fundo do avião na ida e no retorno. Neste viagem elas não comeram na ida e na volta das três opções de refeição, sobrou uma. Comeram.

3) Fui para NY com minha esposa em abril deste ano. Na ida as mesas de apoio estavam muito sujas com respingos de café e as bolsas de revistas repletas de papéis usados. Limpei as mesas e as bolsas. Tanto na ida quanto na volta nossa “opção” do jantar foi lazanha. O frango ou carne acabaram. No retorno todos os banheiros estavam sem água e assim ficaram. Fomos informados pelo comandante depois de vinte minutos da decolagem do evento: ” Lamentamos informar que os encanamentos de água estão com vazamento. Apesar de conhecer o defeito no solo, decolamos. Caso contrário cancelaríamos esta operação. Para atender as condições de higiene serão distribuídos os lencinhos umedecidos. Tenham uma boa viagem.”

4) Há seis meses decidi usar o programa de Fidelidade da TAM. Sou cliente há muitos anos, nunca usara a opção. Levei três horas e dez tentativas de cidades para encontrar um destino ponto a ponto, com sete dias de estadia. A um mês do vôo,nos informaram que seria antecipado o retorno, pois o avião estaria com problemas. Dá para acreditar? Consegui ir para Toronto pela Air Canada. Maravilha o atendimento e a cidade. Não faltou, limpeza, comida, simpatia e água nos banheiros.

A TAm perdeu o seu jeito de voar e atender com dignidade seus clientes. Quando puder, sigo para a concorrência. Só vôo TAM quando no imperativo.

Ronaldo Bianchi

No artigo anterior, tratamos do papel da assessoria de imprensa e, no presente artigo abordaremos a função da publicidade no processo de comunicação.

As organizações informam os seus públicos externos por meio da publicidade e da propaganda. O conteúdo da mensagem dependerá dos objetivos a serem atingidos e, da mesma forma, o veículo a ser utilizado para esse fim. Porém, até chegar à publicação, uma unidade da organização deve se responsabilizar pela ação, cabendo à área de marketing, no caso de médias e grandes organizações. Nas menores, cabe ao setor comercial ou, em empresas ainda menores, a quem interessa a publicidade, o dono da empresa. Como ocorre esse evento? De preferência, a empresa deve contratar uma agência para definir o conteúdo da mensagem, a forma como será transmitida e qual o veículo da publicidade. A chave do processo é alcançar o público-alvo de seu interesse.

Há complexidade para todos os portes de empresa, porém o que a organização deve ter em mente é o resultado. O objetivo básico da publicidade, assim como o da propaganda, é informar: ofertas de mercadorias, promoção de serviços, descrição de seus produtos e assuntos ligados à imagem institucional da organização.
As cautelas que devem ser tomadas na elaboração de uma peça de publicidade são:

. Anúncios Impressos:

. A marca e o logotipo da empresa devem constar sempre da mesma forma.

. A mensagem deve expressar a realidade da proposta, fornecendo aquilo que foi prometido.

. Itens como preço, descrição, endereços ou ressalvas devem estar muito bem colocados no layout da peça publicitária.

. Se houver fotos, elas devem estar bem centralizadas, com boa resolução, permitindo visibilidade e fácil identificação do produto.

. A peça deve expor o diferencial, seja o melhor preço ou a melhor qualidade, enfim, inúmeras alternativas que representem a capacidade de alavancar as vendas ou imagem.

. A correção ortográfica é mandatória, não poderá haver erros relacionados à identificação da empresa e seus dados. Brincadeiras com a linguagem do conteúdo da mensagem deve ser objeto de profunda reflexão. Caso contrário, uma forma errônea irá prejudicar o conceito da marca. É gol contra.

. Quanto aos anúncios para televisão ou internet, as imagens proporcionam novo sentido à forma, porém valem todos os cuidados mencionados para a mídia impressa.

. Anúncios de Rádio – dependendo do assunto, os jingles são insuperáveis.

A publicidade deve sempre estar organizada para um período de tempo, preferencialmente, de forma constante. Nesse sentido, ela alcançará seu objetivo com maior probabilidade de êxito. No processo de publicidade é desaconselhável uma ação singular, única da empresa. As estatísticas indicam que para uma pessoa compreender a ação publicitária, ela deve ser exposta à publicidade pelo menos 138 vezes, o que não é nada fácil. O investimento deve ser proporcional à intenção de conversão dos custos em faturamento, daí, a resultados. Nada fácil!

Ronaldo Bianchi

A prática brasileira de uso de conselho consultivo, administrativo, deliberativo e fiscal é ainda pouco disseminada. Quando existe, é por obrigação legal, seus membros são acionistas ou diretores da própria empresa. A prática do conselheiro independente é exceção. Não há segregação funcional entre executivo e suspensão dos sócios, tudo se mistura.
Quais as vantagens da contribuição de membros independentes?

1. Qualquer empresa precisa de um olhar desvinculado da prática habitual de usos e costumes. A cultura da organização precisa ser questionada para estar atenta às mudanças de mercado, portanto, a contribuição de profissionais independentes poderá ser muito eficaz.

2. A empresa poderá estar em fase de expansão, e trazer um conselheiro com experiência em gestão de desenvolvimento é de fundamental importância, pois encurta a curva de aprendizagem na absorção de novas empresas ou na sua própria expansão.

3. Empresas que por problemas entre sócios poderão perder seu vigor, devido a sua precária comunicação. A participação de conselheiro habilitado na condição de arbitragem poderá ser útil na superação da crise.

4. Empresas em crise de caixa, declínio de produtos, envelhecimento administrativo. A introdução de conselheiros que possam arejar e reestruturar a organização, talvez seja a oportunidade definitiva de sua reabilitação.

5. No caso de empresas em processo de reabilitação judicial, nem se discute. Conselheiros poderão realizar a reformulação exigida pelos credores e reabilitar a organização.

Como os acionistas devem escolher a composição do Conselho?

1. Por equilíbrio societário – para que as forças estejam representadas de forma equânime e simétrica.

2. Por competência – escolher nomes que possam contribuir para o progresso da empresa, excluindo a possibilidade de nepotismo, e critério de escolha por “necessidade” familiar.

3. A escolha por conselheiros independentes deve objetivar o momento vivido pela empresa, prevalecendo critérios como o preenchimento de lacunas quanto ao conhecimento técnico, relacionamento e experiência específica.

4. É obrigatória a algumas empresas, a participação de representante do corpo funcional. Cabe à direção, comunicar a importância do cargo e o estímulo a uma participação cooperativa a toda a empresa.

5. Ouvir os analistas de mercado sobre possíveis nomes que possam agregar confiabilidade, isenção e transparência aos atos decisórios, valorizando a gestão da empresa e aumentando seu valor de mercado.

O fato real: santo de casa faz milagre, mas precisa de ajuda externa.

Ronaldo Bianchi

O formalismo do léxico econômico social distinguiu, em determinado momento, a divisão do trabalho por setores:

. Primeiro Setor – Governo
. Segundo Setor – Mercado
. Terceiro Setor – Sociedade Civil
. Quarto Setor – Crime Organizado

No passado, a visão preponderante estava ligada ao Censo, onde os setores econômicos são: extração, agricultura, indústria, comércio e serviços.

A primeira alternativa é mais abrangente porque inclui a visão econômica praticada na realização do Censo.

Nessa condição, os estudos do terceiro e do quarto setor são importantes para o entendimento da dinâmica social.

Nos Estados Unidos da América, participar de um Conselho de Administração em uma entidade sem fins lucrativos é um dos maiores reconhecimentos sociais almejados. A sociedade americana está baseada em valores cristãos. O enriquecimento se realiza através da ética do trabalho, fato, aliás, muito bem explorado por Max Weber em seu estudo “A ética protestante e o capitalismo”. Cabe ao enriquecido distribuir parte de seu ganho para as causas humanitárias como forma de retribuição de sua sorte. Além de revelar uma conduta diária de resignação, opondo-se a uma conduta pessoal de extravagância. A sociedade americana reconhece a participação de seus membros em Conselhos de organizações não governamentais como algo singular, relevante e meritório. A participação é acompanhada de generosas contribuições em dinheiro, bens e prestação de serviços.

A Lei Americana da Benemerência, de 1917, consolida uma antiga prática americana: a partir desta lei, as doações passaram a ser descontáveis, parcialmente, do imposto de renda a pagar, tanto de empresas quanto de pessoas físicas. A lei é ainda vigente.

O caso dos Conselhos de entidades brasileiras tem a característica diversa, cabendo mais a situação de pertencer, sem a obrigação de doar. Na prática, trata-se de gerir doações de terceiros e do Estado. As leis de incentivo às práticas culturais, esportivas e filantrópicas estão lastreadas na renúncia fiscal e, como consequência, ampliaram a participação do Estado em detrimento da contribuição privada. Hoje, é comum Conselhos serem formados por representantes de empresas, na expectativa de alcançarem doações lastreadas nestas leis. A segunda característica é o formato muito numeroso de governança.

Existem Conselhos com 80 membros, como é o caso do Museu de Arte de São Paulo. A terceira é a condição restritiva, imposta pelos estatutos, à reposição dos membros do Conselho. O sentido natural seria a escolha de membros dentro do agrupamento dos sócios, fato que, em regra, não corresponde à realidade. O Conselho arregimenta novos membros dentro de critérios de afinidades pessoais e/ou sociais, no limite do potencial econômico. A formação do Conselho de organizações sem fins lucrativos necessita de reformulações. Critérios técnicos de escolha de seus membros, sua independência frente à diretoria e redução do número de membros seriam medidas adequadas à adoção de boas práticas ainda incomuns em nossas organizações sem fins lucrativos.

Ronaldo Bianchi

Abordarei o papel do Conselho em três tipos de organização: estatais/públicas, privadas e sem fins lucrativos. Formarão um conjunto de artigos com o objetivo de destacar as peculiaridades de cada quanto a:

1) Forma de comportamento dos dirigentes;
2) Estilo de procedimento para a rede de relacionamento;
3) Acompanhamento de resultados e gestão de recursos.
4) Formação do Conselho.

Iniciarei com as estatais/públicas, obedecendo a lógica setorial: primeiro, segundo e terceiro setor – governo/estado, mercado e sociedade civil, respectivamente.
Há empresas estatais, autarquias e fundações que são sociedades fechadas. O capital é estatal, sem participação de qualquer ente do mercado. As ações ou composição acionária são restritas ao Estado que as criou. Em São Paulo, são exemplos: EMPLASA – Empresa de Planejamento S.A.; IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas; CPOS – Companhia Paulista de Obras e Serviços, empresas públicas com capital exclusivamente formado pelo tesouro do Estado. Quem nomeia seus conselheiros e diretores é o poder executivo, em particular, a Secretaria vinculada e o governador. O governador nomeia os dirigentes executivos e seus conselheiros por mandato, escolhendo, de uma forma geral, pessoas vinculadas ao governo, ocupantes de outros cargos públicos, antigos dirigentes e algumas autoridades do setor em tela.

A “descoberta” da governança corporativa nesse tipo de organização é recente. Geralmente, o Conselho era uma forma de completar a remuneração do dirigente de órgãos do executivo como chefes de gabinete, secretários adjuntos, secretários e outros dirigentes de organizações públicas. A nova legislação compromete o conselheiro quanto aos atos praticados pela organização. Oque era mera formalidade, começou a se reverter para compromisso solidário. Hoje, é comum o Conselho exigir dos executivos, uma apresentação profunda das condições estruturais e funcionais desse tipo de organização como: balanços mensais, mapas de risco, relatórios de desempenho, acompanhamento das lides jurídicas, exigências emanadas pelos órgãos fiscalizadores como Tribunal de Contas do estado e Corregedoria da Secretaria da Fazenda.

O aparelho fiscalizador do Estado passou a ser muito mais ativo a partir de 2006, quando foram criadas várias forças tarefa que culminaram com a formação de equipes permanentes de fiscalização. Diga-se que, a princípio, aquém da qualidade exigida pela função, e muito preocupadas com a formalidade dos atos. Creio que levarão anos até entenderem que a vigilância dos resultados acompanham “pari passu” a obediência ao campo legal (o conjunto de leis e normas) que regulamentam a organização.

As empresas estatais ainda carecem de um projeto de intenso relacionamento intragoverno e sociedade. Elas prestam pouca atenção às funções de responsabilidade social, ocupando muito do seu tempo no atendimento aos órgãos regulatórios e fiscalizadores. Caberia ao próprio poder público, criar modelos voltados ao melhor desempenho. Em sua rede de relacionamento, ainda há uma atenção exagerada no atendimento aos interesses da Secretaria vinculada. Pouco se concretiza na divulgação e no uso dos produtos que a organização gera para a sociedade e outros órgãos públicos.

Creio que um organismo do planejamento deveria se responsabilizar pela articulação das estatais e seus produtos. Vejo essa possibilidade com otimismo, pois a governança corporativa assinala essa direção.

Ronaldo Bianchi

As empresas públicas de capital aberto – S. A. – tem seu Conselho apontado por seus acionistas e em todos os casos há uma representação dos funcionários. Hoje, é uma obrigação legal.
De forma diversa das empresas públicas de capital fechado, o Conselho sofre influência dos acionistas minoritários, dado que parte de seu capital é pulverizado via Bolsa de Valores.

Os exemplos federais de empresas abertas mais importantes são: Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil. Há casos de empresas estaduais de capital aberto como a Sabesp, no caso paulista. A escolha de seus conselheiros ainda é uma equação política e não técnica. A maioria das escolhas recai em nomes de confiança do governo ao qual está relacionada.

A figura do conselheiro independente ainda não é uma realidade. Dessa forma, a busca por um desempenho diferenciado, pela competência no mercado em empresa pública S. A. aberta, ainda não acontece. A sua estrutura de governança não se aprofunda na prospecção de alternativas para o desempenho econômico e financeiro, obedecendo às linhas do governo empossado no aparelho de Estado. Portanto, componentes políticos inibem ou desvirtuam sua função de empresa, fato visível na Petrobras, onde por diversas vezes, os jornais noticiam o atraso na majoração de preços ao consumidor para influenciar os índices inflacionários. Essa intromissão derruba o valor da empresa, a sua política de preços e a sua lucratividade não ficam transparentes. Quando a empresa pública torna-se uma operação de manobra de governo, a imagem fica comprometida. Não critico o fato de a estrutura do capital ser pública, mas a interferência do governo em sua política de gestão de recursos.

Essas operações deveriam obedecer a um conselho com maior independência, blindado da interferência do poder executivo ou sua vitimização pelo poder legislativo. Quem sofre com a má gestão da empresa pública S. A.? São os seus acionistas minoritários como toda a nação, quando o desempenho não ocorre em sua plenitude e é a própria empresa que perde recursos para seu progresso. Portanto, o mercado sabe quando a empresa está abaixo de sua potencialidade. O valor das ações refletem condições especulativas devido à fraca expectativa de reconhecer potencialidades estruturais de seu desempenho.

Talvez, algum dia, possamos ver algo diferente do que existe hoje.

Ronaldo Bianchi

Cada área de atividade econômica é composta por oportunidades e ameaças.

O sistema capitalista atual baseia-se em duas vertentes verticais:
a) inovação
b) marketing.

A inovação gera a oportunidade para as organizações adquirirem competência no sentido de capturar, reter e ampliar seus ganhos. Cria na mente dos consumidores necessidades até então ausentes, formatando novos produtos e serviços. Quase sempre no sentido de facilitar nossa vida.

Por exemplo: a descoberta de novos medicamentos e vacinas para combate de causas e efeitos de doenças crônicas e endêmicas.

A proposta das organizações, ligadas a área fármaco é criar produtos que eliminem ou atenuem as doenças da humanidade, da fauna e flora cultivada por nós, para a nossa sobrevivência.
Portanto, a empresa que alcança uma inovação diferenciada, quanto a correção das disfunções de nossa saúde poderá ganhar recursos e se bem administrada prolongar a sua existência.

Cabe neste instante perguntar: se este for o diferencial para o sucesso, qual proteção que o sistema oferece para que este ganho se realize? A Patente válida para o mundo científico, eletrônico, metalúrgico, fármaco, químico e os demais ligados a produção material. Os processos podem e devem ser patenteados quando apresentarem caráter inovador, relevante e representem ganhos para as organizações que investiram em suas inovações.

Quando as características pertencerem ao mundo criativo: da comunicação, das artes, o processo é protegido pelo direito autoral. Assim, artistas, compositores, arquitetos, designers, escritores, publicitários e construtores de softwares possuam esse abrigo. Portanto, todos os protagonistas da criação e as empresas a eles vinculadas podem usufruir de seus produtos garantindo ganhos e recursos.

Portanto, a cautela quanto ao registro de invenções e criações devem ser procedimentos obrigatórios para resultar em margens e lucros.

Toda esta máquina da criação não poderá ter eficácia sem a segunda vertente: o marketing.
Esta atividade explicita aos consumidores e a sociedade o valor das invenções, criações e inovações que nossa economia produz. É o marketing que torna realidade e configura a imagem perceptiva para a sua compreensão e discernimento.

Portanto, os riscos que devemos analisar são intrínsecas quanto a da proposta e seu processo comunicativo. As organizações de sucesso tomam precauções nas duas pontas. Ser incauto em uma delas poderá por a perder todo o esforço empreendido por organizações e pessoas quanto a inovação e divulgação.

Ronaldo Bianchi

Há dois riscos importantes para as organizações ligadas ao desenvolvimento e gestão.

Desenvolvimento

Crescer menos que a concorrência é negligência, fator letal para organizações. Perdem a relevância junto a acionistas, clientes e fornecedores. A ausência de crescimento são traços visíveis de decadência. Este alerta vale para qualquer organização, com ou sem fins lucrativos e organizações governamentais.

Explico: Paralisar o crescimento reflete em menos disponibilidade de caixa para: pesquisa, propaganda, desenvolvimento de mercados novos, investimentos em novas áreas de conhecimento, máquinas, dispositivos e aumento de produtividade.

Gestão

Se no passado, possuir elementos como capital financeiro e capacidade tecnológica eram fatores decisivos para o sucesso organizacional, hoje além destes, acrescentamos:

1. Captura, desenvolvimento e situação dos talentos de recursos humanos. Creio que no fundo sempre foi o fator mais decisivo para o sucesso organizacional. Porém, sua relevância se tornou mais evidente, a partir do momento em que os fatores “hardware” tornam-se comodities. Máquinas, equipamentos e seus acessórios passaram a estar disponíveis nos quatro quadrantes mundiais. A sua aquisição facilitada seja pelo prazo, financiamento e assistência de implantação e manutenção. Atualmente o que decide são recursos humanos criativos, comprometidos e que produzem resultados.

2. Para complementar: negligenciar processos. A organização de sucesso privilegia o conhecimento do seu processo. Esta operação de permanente negligência e reposicionamento garante vitalidade e inibe a acomodação. Por meio de processos, garantimos padronização, observamos possíveis inconsistências na realização de produtos e serviços. Aprimoramos a realização de redução de custos e aumento de resultados.

Portanto, crescer é bom.

Ronaldo Bianchi