Nas últimas semanas a América Latina moveu-se. A eleição de um conservador no México, a queda Fernando Lugo e a demonização do novo governo paraguaio, a entrada da Venezuela no MERCOSUL. O governo brasileiro mostrou-se contráriado ao desmonte paraguaio, partiu para retaliação. Forçou a entrada da Venezuela no MERCOSUL, quando o Paraguai estava suspenso na organização. Dois importantes diplomatas brasileiros apontaram vício nesta atitude. Rubens Barbosa de Sousa e Celso Lafer. Didaticamente exploraram a tese da nulidade futura desta atitude. O Congresso paraguaio há tempos impede a entrada da Venezuela no acordo, tem este direito. A subscrição de um novo signatário deve ser aprovada por seu Congresso. Caso contrário ele não será aceito. O governo brasileiro mesmo ciente do fato impôs ao Uruguai à entrada da Venezuela. O que acontecerá quando a suspensão acabar? O Paraguai já está agindo. Está a um passo do rompimento diplomático com a Venezuela.

O presidente venezuelano tramou um golpe contra as instituições paraguaias a sua maneira, uma quartelada. Foi flagrado agindo no bastidor militar paraguaio. Fracassou. O Congresso agiu com a brevidade dos inteligentes e legalistas. O Brasil passou a vilão pelas mãos de Chaves. Capitaneou a retaliação. Puniu o Paraguai movendo duas ações simultâneas: a suspensão daquele país e a entrada dos venezuelanos no MERCOSUL. Foi uma ação dissonante das conquistas recentes da nossa diplomacia. Conseguimos nos afastar do regime iraniano e de seu esquisito presidente. Uma recaída a favor do populismo bolivariano. Só o tempo acalmará nossas relações com o Paraguai e os próximos passos do seu novo governo.

O México é país a beira de uma guerra civil. Milhares de mortos narcotraficantes podem estar enterrados nas suas covas, mas seus espíritos rodam o país. O seu governo central está enfraquecido, perdendo espaço político e futuramente físico do país. Há regiões mais ou menos afetadas, mas nenhuma isenta desta sina. Regiões das cidades do Rio e São Paulo sofrem do mesmo mal. Como combater esta situação? Com mais governo. Geração de riqueza por meio de investimentos em infraestrutura e nas forças armadas para o combate aos narcotraficantes. A dispersão tomará mais força quando países como Bolívia e Venezuela pararem dar abrigo ao crime organizado. Quando a Colômbia liquidar com as forças da FARCS. Quando o governo brasileiro perceber que:

1) Está atrasado no combate ao tráfico e ao contrabando. Os recursos destinados não suficientes à inteligência da polícia civil e militar, nas fronteiras e nas periferias das cidades para um combate severo e terminativo. Estamos em guerra e agimos como a complacência dos ingênuos.

2) Os “aliados” bolivarianos são nossos inimigos. Transitam no limiar da criminalidade institucional. Não será por este caminho nossa redenção e desenvolvimento.

3) Está incompetente para gerir seus investimentos internos no geral e na nossa infraestrutura em particular. Desta forma, adia novos empregos renda e por consequência mais desenvolvimento.

Brasil e México são os maiores países da América Latina. Devem rapidamente agir conjuntamente para mitigar as ações do crime organizado. Não há muito tempo.

Ronaldo Bianchi

Os recentes acontecimentos do Paraguai, refletem a incapacidade do deposto ( legalmente) presidente Fernando Lugo em solucionar problemas estruturais e funcionais de seu país. Nada, além disto. O descontentamento é externo, originário dos aliados comprometidos com o populismo latino americano. A votação de impedimento foi legítima. Votaram deputados e senadores. O resultado contra Lugo acachapante nas duas casas foram 121 votos a favor e cinco contra. Não houve movimentação popular para a sua manutenção ou desaprovação do parlamento. A chiadeira partiu de fora, dos aliados de Lugo: Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador. São seus respectivos presidentes: Dilma, Chaves, Cristina, Morales e Correa. Deles a nossa presidente é única que não está em processo sucessório iminente ou crise econômica à porta ( Argentina). Os outros fazem parte do modelo bolivariano, cuja proposta é perpetuar-se no poder de seus países a qualquer custo. Representam o neo populista com características de esquerdismo primitivo. A ação do Congresso paraguaio foi acertada por vários aspectos:

1) O país enfrenta uma situação inusitada. O empresariado brasileiro instalado é composto de agricultores, são cerca de quatrocentos mil. São denominados de brasiguaios. Fazem parte constituída do cenário econômico. Sofrem discriminação empresarial. Explico. Compraram legalmente terras que agora estão em fase de regularização. Demandantes locais como movimento sem terra e outros agricultores locais tem sistematicamente invadido as propriedades e vandalizando suas instalações e equipamentos. O poder judiciário tem dado ganho de causa aos legítimos compradores, ou seja, aos brasiguaios. Com Lugo no poder as ações eram retardas indefinidamente. Esperamos agora com o novo governo haja uma aceleração nas reintegrações e do registro de posse das terras compradas em boa fé. A regularização proporcionará garantias reais para empréstimos necessários a atuação empresarial. Será um diferencial importante e promissor para economia. Neste plano a mudança de governo é um alento.

2) Há motivos históricos para um processo acelerado do impedimento. O país é frágil frente aos países fronteiriços. A história os ensinou a agir com rapidez. Desta feita legal e legítima. No século 19 a Tríplice Aliança, reunia Brasil Uruguai e Argentina dizimaram a indústria e a demografia do país. Cometeram atrocidades a serviços dos interesses ingleses. A florescente industrialização têxtil do país incomodava os britânicos. Viram à oportunidade de eliminar a concorrência pelas mãos de seus vizinhos. O custo foi alto moral e econômico. As tropas da aliança mataram os prisioneiros e na invadiram cidades assassinando os meninos paraguaios. Ocorreu um genocídio ainda não reconhecido pelos membros daquela aliança. A indústria têxtil e de transformação foram destroçadas. Nos dias atuais a aliança que protegia Lugo (incompetente reconhecido) era maior e mais preparada para uma intervenção internacional. Lugo pleiteou uma lei que os membros do UNASUL ( leia-se os bolivarianos) poderiam intervir no país em caso de ruptura institucional. Coube ao Congresso proceder de forma célere o processo, depondo Lugo. A Suprema Corte endossou o Congresso, portanto não há como negar validade do ato.

Aguardemos o apoio justo do novo governo aos empresários e agricultores brasileiros.

Ronaldo Bianchi

A flutuação cambial é efeito da movimentação de diversos fatores econômicos. A taxa de câmbio é determinada pelo conjunto: risco do país, capacidade de pagamentos de seus financiamentos, da sua estrutura de impostos, da taxa de remuneração do capital financeiro, da capacidade da infraestrutura local em relação a internacional, (des) vantagens comparativas ao mercado internacional, segurança jurídica para os investimentos privados, regramento da força de trabalho, entre outros.

O Brasil há pouco tempo possuía um câmbio favorável à importação. Nossa moeda estava apreciada em relação ao dólar. Há um ano pagávamos R$1,6 real por U$ 1 dólar. Hoje nos aproximamos a R$ 1,9 real por dólar. A que atribuir esta mudança? As medidas de redução dos juros ainda não refletiram neste cenário. Muito recente a pressão oficial para a queda dos juros Selic e ao consumidor. Esta primeira rodada atribuímos ao esforço do governo em comprar dólar para desvalorizar o real. As medidas são favoráveis aos exportadores. Encontrou-se uma forma de compensar um cenário de depauperação de nossa balança de pagamentos e a destruição de empregos na cadeia produtiva brasileira. As exportações brasileiras dependem de vários fatores para crescerem. Ela hoje está mal distribuída. Há concentrações. Produtos de mineração e agrícola representam 70% de seu total. O restante 30% dividem se em produtos industrializados e serviços. Sendo o último quase residual.

Qual o cenário curto prazo? O que podemos fazer para sobreviver a esta nova maré de estagnação e declínio econômico?. As notícias estão nos acelerando a tomar iniciativas corajosas. A crise europeia é grave. É certa a redução das importações chinesas, nosso principal cliente de matéria prima. A economia americana ainda não estabilizada é outro componente desfavorável a todos. Portanto, desenvolve-se uma redução de preços e volume de nossos produtos primários de exportação.

O cenário interno indica alteração de perspectiva. Planejávamos crescer 4,5%. Agora a expectativa  é de3,7%. Significativa alteração. O que fazer? O governo agiu desde o final de abril no sentido de reduzir juros tanto na taxa básica quanto na ponta do consumidor. Esta alteração nos beneficia quanto ao mercado interno (menor possibilidade de inadimplência) e a redução do pagamento do montante de juros pagos ao sistema financeiro para rolar a dívida governamental. O governo precisará propor uma redução de custeio, reduzir de impostos, taxas,  contribuições. Como melhorar o desempenho de seus investimentos. Desta forma haverá uma melhora geral em nossa economia e poderemos continuar a crescer dentro da taxa de inflação projetada.

Ronaldo Bianchi

A Presidente Dilma, em 30/4/2012, declarou guerra aos bancos privados por praticarem juros “altos”. Em discurso à nação, a nossa Presidente conclamou a população a exigir dos bancos privados:

1) Diminuição de suas taxas de juro proporcionalmente à queda verificada na taxa Selic.
2) Igualarem as taxas de juro aos dos bancos oficiais (Banco do Brasil e Caixa).

3) Redução da taxa operacional bancária brasileira (spread), por admitir ser uma das maiores do mundo, portanto, alcançando os patamares das grandes corporações internacionais.

Creio que a nossa Presidente deveria fazer seu governo mais eficiente, antes de açodar a massa contra os banqueiros privados. O tratamento dispensado foi dos piores possíveis, só faltou chamá-los de “agiotas de carteirinha”.

O que faltou na proclamação da nossa dirigente máxima, entre outras medidas?

1) Anunciar a quem denunciar os bancos privados com taxas superiores às dos bancos oficiais.
2) Indicar a quem recorrer para desconto de duplicatas ou antecipação de recebíveis caso as taxas encontradas sejam superiores às oficiais.
3) Garantir à população que os bancos oficias substituirão as operações negadas pela banca privada.
4) Declarar o fim das linhas de financiamento a juros subsidiados praticados pela banca pública: Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, Banco do Brasil e Caixa Federal.
5) Eliminar a prática da renúncia fiscal orçamentária.
6) Aumentar a taxa de remuneração do FGTS.
7) Diminuir a taxa de retenção do depósito compulsório do sistema financeiro.
8) Reduzir os cargos públicos em comissão aos níveis do ano 2001.
9) Onerar o imposto de transmissão de fortunas.
10) Desonerar os encargos sociais da folha de pagamento das empresas.
11) Melhorar as condições das estradas, portos e aeroportos.
12) Ampliar o financiamento para estados e municípios para a melhoria dos sistemas de tratamento de água e coleta de esgoto.
13) Exigir o cumprimento de metas e criar indicadores de desempenho para cada área de cada um dos ministérios.
14) Extinguir todos os ministérios criados para acomodar os partidos da aliança de governo.
15) Vender os ativos inservíveis dos poderes executivo, legislativo e judiciário para abater a dívida pública junto à banca.
16) Extinguir as emendas parlamentares do Congresso Nacional.
17) Praticar um orçamento superavitário até que nossa dívida pública alcance 0,5% do PIB.
18) Renunciar a todos os projetos e programas deficitários para beneficiar empresas e entidades.
19) Acelerar a punição dos envolvidos no crime organizado (contrabando, tráfico de drogas, armas e burla de processos de licitação).
20) Profissionalizar a nomeação para a direção das empresas públicas, autarquias, agências de controle e cargos ministeriais.

Está na hora deste e dos próximos governos proporem medidas eficazes para a redução do nosso custeio público e redução tributária (quando onerosa, sem contrapartida real por parte do Estado). Desta forma, administrando recursos e processos poderão melhorar nossa educação e desonerar a carga de juros que nos limita crescimento e sanidade econômica.

A prática das taxas de juro está correlacionada com a eficiência dos processos e recursos da nação, sejam eles públicos ou privados.
Se o governo Dilma fosse forte cassaria as patentes bancárias dos agiotas, garantindo as dos banqueiros.

Não é fácil, sabemos, mas não admitimos propostas populistas demagógicas como ouvimos em 30/4/2012.

Dilma lembra Sarney e Collor quando congelaram preços e jogaram a população contra os produtores e comerciantes. Qual foi o resultado: inflação de 90 % ao mês e a deposição de Collor acusado de corrupto pelos congressistas.

Presidenta, qual será seu legado?

Ronaldo Bianchi

Deu no Estadão 21/4: “Dilma alega que juros, câmbio e impostos são as principais amarras inibidoras do nosso desenvolvimento”.
Acredito que a reportagem tenha omitido parte do discurso da nossa Presidente. Caso contrário, estamos diante de um precário diagnóstico.

Os três fundamentos são inertes por si. Sintetizam o desempenho, a prática e a dinâmica de diversos fatores econômicos, políticos e sociais. Estas sim, causas de melhor ou pior desempenho econômico do país.

Portanto o tema em discussão está no ponto de descobrirmos as causas dos juros “altos”, do câmbio “apreciado” e da “alta” carga tributária. São as bases que determinam os coeficientes dos fundamentos econômicos.

Abordarei esta discussão em três artigos.Primeiro, a distorção da “alta” carga tributária.
Discordo do qualificativo “alta”. Na verdade, o problema pode ser abordado de outra forma:
A carga será percebida “alta” quando:

1) A população e o mercado perceberem que o custeio da máquina pública não atende suas expectativas com relação à qualidade e quantidade de serviços públicos prestados, além de um excesso de funcionários nos órgãos de estado.

2) Os investimentos públicos não atenderem as necessidades prementes da população e dos empresários. Como por exemplo, a falta de rede de esgoto, iluminação, estradas esburacadas, a baixa produção de energia.

3) O custo de produção de bens e serviços, de mesma ou de melhor qualidade, são superiores a de outros países.

Se a percepção aponta para a confirmação de “alta”, quais são as causas destas distorções? Podemos elencar algumas:

1) Má alocação dos recursos públicos.

2) Excesso de burocracia.

3) Incompetência técnica quando da execução de projetos e programas públicos.

4) Alto índice de sonegação, que obriga alguns pagarem por todos.

5) A falta de combate ao crime organizado. Representados pelo tráfico de armas, drogas, roubo de cargas e fraude em licitações ou na sua realização (entregas de bens e serviços fora das especificações estipuladas).

Como corrigir as causas destas distorções?

1) Designar pessoas providas de uma conduta ética e qualificadas tecnicamente para os cargos em comissão. Só assim, estarão garantidas a eficiência de procedimentos e uma melhor alocação de recursos. Governo sério não atende os partidos das bases governistas ou aliadas, que extrapolem estes fatores (técnica e ética). Obediência do princípio da impessoalidade.

2) A arrecadação deve obedecer aos princípios da equidade, pela qual todos recolhem os devidos tributos na mesma proporção. Neste caso vale a experiência paulista em arrecadar por estimativa na primeira fonte de produção. Os impostos que presumivelmente poderiam ser arrecadados pela distribuição, é arrecadado na porta da fábrica ou no cais do porto. Nesta condição o comércio fica sem possibilidade de sonegar os impostos estaduais.

3) Oferecer condições de trabalho e aparelhamento de nossas forças militares e policias, faria muita diferença. Proteção de fronteira, inibiríamos o contrabando e as drogas.

4) A punibilidade severa e rápida dos membros do crime organizado seria outra forma de combate às nossas mazelas.

5) Equilibrar a concorrência predatória oriunda de países praticantes do trabalho escravo ou de emprego vil seria mais uma atitude saneadora. Protegeríamos nossos empregos e a indústria brasileira.

6) A reforma tributária e da previdência social no sentido de desonerar a folha de pagamento, aplicando mais impostos no consumo, renda e na transmissão de fortunas.

No próximo artigo abordaremos os “altos” juros. Como poderemos perceber estará interligado a diversos fatores, acima mencionados.

Ronaldo Bianchi

As empresas brasileiras enfrentarão uma nova crise. Já enfrentamos uma dezena delas, mas nesses últimos oito anos, somente uma – a de 2008. A crise de 2012 nada terá haver com alinhamento planetário ou outra previsão de Nostradamus, pois trata-se do desdobramento da crise de 2008, e por quê?

Naquele momento, os governos centrais ampliaram suas dívidas para dinamizar as suas economias, e, em parte, o plano deu certo. A crise foi amenizada, porém não gerou o crescimento necessário para ampliar suas arrecadações, que garantiriam a sua sustentabilidade. Algumas economias cresceram menos do que o esperado, e pior, algumas já estavam à beira da boa alavancagem, passaram do ponto e não conseguirão honrar débitos contraídos. Solução: renegociação.

Quais os termos? Empresta-se nas seguintes condições: reduzir custeio da máquina pública, investimentos, o montante dirigido a políticas sociais e consorciar com o aumento da tributação. A América Latina caiu nessa armadilha nos anos 70 com o aumento do petróleo e estagnou-se com hiperinflação por 18 anos. Quem tem mais de 40 anos sabe do que estou falando, pois viveu o processo. Quem tem menos pode ler e conhecer o flagelo desse desatino. Naquela época, cresceram as favelas, a dívida pública, a criminalidade e os serviços públicos se contraíram. Hoje, o Brasil está razoavelmente melhor porque privatizou empresas, melhorou seus indicadores sociais e ampliou seu empenho na educação. Além disso, criou mecanismos de carga tributária ligeira para os pequenos empresários.

Os médios estão ficando (morrendo) pelo caminho. Agora é a hora de redução de juros, ampliação dos benefícios na redução da carga às médias empresas, melhor financiamento para o agronegócio e os exportadores, desoneração das folhas de pagamento de todos os setores. A redução da carga federal é inevitável para evitar a estagnação, porém para isso será necessário:

1. Ampliar o combate à sonegação fiscal.

2. Combater o contrabando, o roubo de cargas e o tráfico de drogas. Sendo essa o três em um do crime organizado.

3. Diminuir para 20, o número de ministérios que, hoje, somam 37. Permanecer apenas com aqueles importantes para o país crescer.

4. Diminuir o número de cadeiras no Senado e na Câmara Federal, nas Assembléias dos Estados e nas Câmaras Municipais. Qual o número? Um terço no Senado e a metade no restante.

5. Proibir a criação de mais estados e municípios.

6. Bloquear os esquemas de evasão de divisas.

7. Punir com mais severidade a corrupção pública.

8. Reduzir, em dois terços, os cargos em comissão em todas as esferas públicas.

Nada fácil, mas será uma questão de prioridade econômica para alavancar a justiça social de um lado e do outro, para que as empresas possam manter seus níveis de emprego e até crescer dentro da crise internacional que se avizinha.

São medidas de ruptura exigidas para os momentos extraordinários. Quem liderar esse processo encontrará no povo fiéis seguidores.

Ronaldo Bianchi

Sim e não. Sim, se depender de seu reconhecimento da sociedade quanto à qualidade para o atendimento de seus anseios. Para que essa situação seja permanente, são necessárias mudanças em número igual de exigências e oportunidades oferecidas ao mercado. Os desafios de inovar e de divulgar são os itens mais importantes para a organização.

A sociedade retribuirá às empresas que ofereçam serviços e produtos que agreguem valor e realizem seus anseios. Ninguém precisa de um iphone para viver, porém quem o tem sabe como é sofisticado e útil. O mesmo ocorre em toda a cadeia de consumo, seja qual for a faixa de renda da população de um país. Pense naquilo que você consome ao acordar até retornar para casa. Quais são as marcas de produtos que utiliza e há quanto tempo?

. Higiene: xampu, sabonete, creme dental, papel higiênico, barbeador, creme para pele, loção anti-caspa;

. Alimentação: leite, frutas, pão, manteiga, margarina, requeijão, sucos, sucrilhos, café, açúcar, adoçante; embutidos entre outros.

Ao sair para estudar, trabalhar ou passear, como você se desloca? Ônibus, metrô, carro, carona, a pé, bicicleta, motocicleta.

Quando chega ao trabalho, quais as marcas de produto com que você se defronta? O espectro amplia-se na velocidade do trabalho que realiza, da arquitetura à metalurgia, mineração, ou seja, “n” alternativas. Mas sempre há uma marca de preferência.

Quando retorna para casa, pense no happy hour, no lazer e no jantar. Sim, os remédios não ficam de fora, para regular a pressão, desobstruir artérias e dormir melhor.

Preste atenção naquilo que você consome diariamente e há quanto tempo, quais as marcas que acompanham sua vida. Você terá uma surpresa: algumas entraram em sua vida e você nem se lembra quando. Essas marcas, por várias razões, motivos e intenso trabalho fizeram a sua lição de casa para entregar a você e a sua família, segurança, saúde, prazer e emoções.
As empresas proprietárias das marcas podem ter mudado de mãos, mas a satisfação que oferecem continua em alta.

Vejamos os casos pós-Collor. Sim, “elle” com toda sua capacidade de confusão, abriu caminhos para nos libertar dos oligopólios, que nos empurravam produtos de qualidade sofrível. Graças a sua ousadia, o setor automobilístico brasileiro mudou de rumo e nada como a concorrência para melhorar a vida do consumidor.

Lembro-me de um exemplo clássico: durante anos a Johnson & Johnson dominou as prateleiras dos supermercados com suas fraldas descartáveis. Ela colocava o distribuidor e o consumidor de joelhos, praticando preços extorsivos. Quando a Procter & Gamble entrou no mercado com a marca Pampers e com um preço menor, nós, os consumidores, nos vingamos do produto Johnson. Eles foram ao chão e a vingança foi comprar o produto concorrente com a ajuda da distribuição. Portanto, fez bem à saúde das empresas que querem progredir e atuar de forma não imperial, com cortesia e respeito ao consumidor. Por que gostamos de marcas como Sadia, Perdigão, Wickbold, Kellog’s e Nestlé por exemplo? Porque elas nos tratam bem e temos confiança em seus produtos.

É o caso da Natura, Boticário, Unilever, Procter & Gamble nas áreas de perfumaria, higiene e limpeza. Portanto, não é difícil identificar quais as empresas que possuem um futuro previsível.

Ronaldo Bianchi

Como tenho afirmado nos artigos anteriores, o futuro é previsível. Mas quando não é? Quando ocorrerem ou não, sucessivamente, os seguintes fatos:

1. Qualquer fenômeno natural ou incêndio que destrua fisicamente a única unidade da empresa. Nesse momento, escoam-se as esperanças de reerguê-la, perdendo-se o futuro.

2. Desapropriação: da mesma forma que os fenômenos naturais, quando a unidade for desapropriada pelo Estado. Dificilmente, há condições para desmonte e remonte da empresa. Hoje, melhor do que no passado, há uma indenização mais próxima da realidade imobiliária. Porém, quando se tratar de indústria, a peritagem oficial é despreparada para avaliar, criteriosamente, os custos do desmonte e remonte de máquinas e equipamentos. Dessa forma, a empresa deverá arcar com verbas indenizatórias menores do que as necessárias para a sua continuidade operacional. Esse fato é uma tragédia na vida das empresas e, em particular, das que possuem somente uma unidade. Acrescente-se os custos de indenização de funcionários, suspensão de entrada de recursos e de margem de lucro.

Essas duas situações representam o que há de pior, se comparadas à incompetência administrativa, desinteligência entre sócios, roubos contínuos executados por funcionários, políticas econômicas governamentais, sucessão mal organizada, obsolescência de máquinas e equipamentos, imaturidade gerencial, má escolha de investimentos, senilidade ou doença fatal do fundador, falta de coragem para dar um basta a desatinos praticados pelos sócios, a sonegação fiscal flagrada pelo fisco, e conduta criminosa dos dirigentes.

A maioria dessas outras causas da fatalidade das organizações que comprometem o seu futuro poderá ser corrigida a tempo. Como? No caso de intervenção, cabe a montagem de um conselho, profissionalização dos cargos executivos e o afastamento dos responsáveis pelos desatinos.

Há outras formas como: a venda, a associação ou o fechamento da empresa. Não há receita para a solução dos fenômenos naturais e desapropriação, porém a escolha da sede deve preceder um estudo aprofundado das condições locais quanto a:

. Disponibilidade efetiva da guarnição de bombeiros.

. Do histórico dos fenômenos naturais: vendaval, enchentes.

. Se há estudo, mesmo que futuros da instalação de algum empreendimento público (aeroporto, hospital, escola, estrada e outros).

Ronaldo Bianchi

Podemos examinar uma organização por meio de vários pontos visíveis, tais como: portfólio de produtos; marcas; mercado de atuação; dirigentes; estrutura de governança; tratamento dispensado aos funcionários; pagamento de impostos em dia; quantidade de ações tributárias e trabalhistas; percepção da imprensa; quais associações e sindicatos contribui e participa; se já foi objeto de estudo de escolas de administração e publicidade; tratamento dado às reclamações de colaboradores, clientes e fornecedores; e se existem pendências nos cartórios de protesto.

Existem pontos que não enxergamos, como por exemplo: lucratividade (no caso de empresas limitadas e sociedades anônimas de capital fechado); porcentagem de domínios de mercado; mau relacionamento entre sócios e conselheiros; qualidade dos fornecedores; processo decisório; atualidade de tecnologias e equipamentos; futuro portfólio; qualidade da força de venda; integridade dos dirigentes e dos funcionários; estruturação dos processos seletivos, de incentivos e demissionais; defesas diante da crise; características criativas, propositivas e reativas.

Verificando e pesquisando tanto o lado visível quanto prospectando aspectos não visíveis, podemos analisar e avaliar a previsibilidade das organizações quanto a sua perenidade por determinado período de tempo.

Caso a organização não atenda positivamente os aspectos visíveis em, pelo menos, 70%, ela estará, em breve, em situação de perigo estrutural. As organizações com atendimento negativo ou abaixo de 50%, com certeza, estão em turbulência. O mesmo vale para os aspectos invisíveis e a soma das duas possibilidades. Há organizações que não atendem 50% de positividade, porém estão em posição de monopólio ou dentro de um mercado cartelizado.

A vida dessas organizações, com certeza, será maior do que daquelas que operam em mercado de concorrência direta. Porém, nenhuma sociedade ou governo agüenta desaforos e má administração em tempo integral. Portanto, faz bem exercer as qualidades positivas à semelhança dos organismos biológicos: exercícios constantes, boa alimentação, costumes regrados e sem exageros, respeito aos limites físicos.

Faz bem à saúde de qualquer ser vivo, assim como das organizações. Para quem estiver bem, o futuro é previsível a curto e médio prazo. Agora, para quem menospreza o mercado, a sociedade e seus colaboradores, com certeza, estará em maus lençóis em algum momento futuro. Portanto, seu futuro também é previsível.

Ronaldo Bianchi

Os cuidados com alguns fundamentos das organizações definem as suas capacidades relativas à longevidade e às forças de superação nas crises.

Quais seriam os fundamentos mais evidentes?

1. Capacidade de investimento – as empresas que descuidam da renovação, atualização e aumento de sua produtividade constante assinam um atestado de óbito prematuramente. Essa “fatura” será cobrada pela falta de investimento, ou pior, pela incapacidade da organização em conseguir investir. Quando? Outras empresas começarem a abocanhar nacos de seu mercado, ou quando uma importante crise setorial abater sobre o mercado. Nesse momento, sua estrutura deverá:

a) Estar enxuta (pela produtividade).
b) Com custos a prova de crise, em outras palavras, projetar lucros mesmo quando a demanda se retrair.
c) Ter flexibilidade na linha de produção (dada a sua modernização).
d) Apresentar preços competitivos aos padrões internacionais.

2. Integração e treinamento da equipe – as empresas com o melhor modelo de compromisso com sua força de trabalho poderá superar as adversidades com melhor possibilidade de êxito do que aquelas que enxergam os recursos humanos como custo, fardo, mal necessário, ou não passam de números. As empresas que remuneram pelo êxito, desempenho individual e por grupo e geral serão mais bem recompensadas do que aquelas que não compartilham seus resultados.

3. A profissionalização da administração – tenho o comando familiar como um importante fator de empreender dentro de cenários adversos. Há que reconhecer o valor daqueles que visionaram oportunidades, quando outros as enxergaram como obstáculos. Focar na solução e não no problema faz a diferença. Porém, tudo dá certo por um tempo, e não por tempo indefinido, seja qual for a organização. Enxergar o momento certo de o empreendedor compartilhar com os empresários (da família ou profissionais) é fator decisivo para o sucesso.

Para ilustrar os comentários, podemos citar:

1. A falta de investimento levou a Antarctica a ser vendida para a Brahma.

2. A integração da equipe e o treinamento levaram a Procter & Gamble a ser uma empresa centenária em constante crescimento, assim como a 3M e a Dupont.
3. A profissionalização transformou o Grupo Ultra em uma das organizações mais lucrativas e perenes do Brasil e, da mesma forma, a Embraer.

Os exemplos de superação estão ligados à capacidade de conhecimento dos mercados onde atuam, na valorização do lucro, no investimento contínuo, no cuidado com os recursos humanos, e na capacidade estratégica da direção das empresas e de seu autoconhecimento.

Ronaldo Bianchi