Quando tratamos de previsibilidade, é muito importante ficar atento às possíveis políticas públicas ou a sua falta.

A política de juros e câmbio praticado pelo governo federal é fator relevante para as indústrias manufatureiras locais. É fácil perceber sua influência quando o cenário aponta para juros altos, real apreciado e inflação em alta. A indústria sofrerá nas vendas, acarretará em obsolescência do parque industrial e, portanto, perderá valor. Esse cenário foi comum em todas as crises dos anos 90. No governo Fernando Henrique a indústria brasileira sofreu grande desgaste e desajustes. Faltou crédito a longo prazo, para que as empresas brasileiras pudessem criar condições competitivas e sustentarem-se. Muitas delas fecharam ou faliram. Foi uma devastação, um período de alta volatilidade no desempenho das vendas e da lucratividade. O emprego na indústria foi reduzido, principalmente nos setores caracterizados pelo emprego de baixa tecnologia e mão-de-obra intensiva.

A indústria metalúrgica no setor de manufatura de alumínio sofreu muito nesse cenário. Naquele momento, as grandes empresas do setor iniciaram a sua consolidação e, por meio da liderança de mercado, a Panex fez valer seu protagonismo. As grandes marcas Panex, Penedo, Clock e Rochedo eram indústrias separadas e de origens diferentes. As três primeiras, brasileiras, e a última, uma subsidiária da Alcan (canadense). Em poucos anos, as quatro uniram-se em uma única que, logo depois, foi vendida para a maior empresa americana de manufatura de alumínio e aço. Cenário instável, volátil e sinuoso. A empresa voltou a ser propriedade brasileira quando o então presidente Ricardo Cury e seus diretores a compraram, já consolidada, dos americanos. Diga-se que Ricardo e seus irmãos eram os dirigentes da Panex e mentores da consolidação das maiores marcas de utilidades domésticas de alumínio. Uma história a ser contada.

A indústria têxtil sofria do mesmo mal da metalúrgica (baixo emprego de tecnologia e mão-de-obra intensiva), em outras palavras, a velocidade da máquina era inferior aos concorrentes internacionais, sofrendo, ainda, o alto custo das obrigações trabalhistas brasileiras em relação aos asiáticos. A indústria que mais se destacou nesse período foi a de José Alencar – Coteminas – por meio de uma estratégia vencedora: consorciando investimentos em tecnologia e endividamento a longo prazo, longe dos bancos comerciais. Criou uma das mais preparadas organizações a nível mundial. Conquistando posição singular na cadeia da manufatura: do fio à confecção. Todos os processos foram extensamente modernizados e verticalizados. A ousada estratégia deu certo pelos motivos já apontados, somando-se à criação de um espírito de equipe sólido, comandado por Josué Gomes da Silva, filho do fundador.

Foram dois exemplos de sucesso, apesar de um cenário de crise constante, mercado volátil, onde juros altos, real apreciado e invasão de artigos importados eram uma constante.

Ronaldo Bianchi

A história das organizações nos coloca que é uma verdade dentro de um prazo de tempo. Não há futuro indefinidamente previsível. Qual é o prazo de validade da previsibilidade? Isso dependerá: das forças que dirigem as organizações, como a maturidade dos seus mercados de atuação, dos ciclos econômicos de produtos ou serviços que realizam, de sua direção executiva, das intenções de seus acionistas, das regras governamentais, das condições macro-econômicas do país onde atuam (vale o plural para as multinacionais), das condições naturais (meio-ambiente) e dos avanços tecnológicos.

Há 20 anos, tínhamos como prever que organizações como Amazon e Facebook apareceriam com a força que irromperam? Da mesma forma, não pudemos imaginar que o mundo corporativo nos apresentasse situações críticas como em 2008. Além da crise que agora, no final de 2011, apresenta-se com um conjunto relevante de países europeus falidos e no limite de um calote histórico.

Como as organizações poderiam garantir-se nessas condições gerais tão adversas?

Primeiro, cabe avaliar se o seu negócio tem futuro, Se você é uma indústria e produz brinquedos, seu horizonte dependerá: da taxa de natalidade, dos insumos importados, da taxa de câmbio, das sobretaxas de importação, das atualizações dos seus concorrentes, da capacidade das empresas atuarem em conjunto no sentido de protegerem seus interesses coletivos. Outro exemplo seria o das empresas do setor de serviços, onde as condições estratégicas dependerão de: qualidade da operação, regras do setor de atuação, interesses de outras organizações (empresas globalizadas carregam fornecedores globalizados), satisfação dos clientes, lucratividade real do negócio.

Algumas áreas de prestação de serviços ainda são muito informais em suas contratações, fato que cria condições de alto risco trabalhista e futuro passivo. Algumas empresas como as de assessoria de imprensa e comunicação são típicas no descumprimento das leis trabalhistas. Há um pacto entre empregador e empregado para a desobediência às leis, que impacta negativamente na arrecadação previdenciária e, até mesmo em alguns casos, refletem em situações como evasão fiscal.

Essas condições de descumprimento coletivo aceleram a imprevisibilidade do seu futuro. Como não há cumprimento generalizado das normas, os aventureiros tendem a crescer em maior velocidade do que aqueles que cumprem suas obrigações. Porém, seu prazo pode ser curto, caso haja uma conscientização dos prejudicados com esse ambiente. Aos prejudicados, caberia procurar as autoridades e dar cabo dessa situação lesiva à livre concorrência.

Nos próximos artigos iremos abordar outros setores e exemplos.

Ronaldo Bianchi

1. Os juros brasileiros – quando construímos um plano de negócios para uma atividade, devemos, a priori, estabelecer o critério da relatividade do risco da operação frente a um rendimento seguro como, por exemplo, os juros pagos na compra de títulos do governo brasileiro. No nosso país, qualquer negócio deverá partir de uma lucratividade superior a 8% para se justificar. Por quê? Com o governo pagando 14% ao ano, descontada a inflação, sobram os juros líquidos, ou seja, 8%.

2. A burocracia é intrincada – para a instalação de unidades industriais, de extração mineral e agrícola. Não sou adepto e não preconizo o desmatamento, a poluição do solo e do ar e dos lençóis freáticos, muito menos dos nossos mananciais. O que preconizo é que haja agilidade na análise desses aspectos, expedição de habilitações e certidões. Creio que nenhum investidor colocará seus recursos em empreendimentos passíveis de multa, interrupção de atividades ou exposição à máquina pública de fiscalização. O empresário não está disposto a correr riscos nos quais seu empreendimento poderá ficar funcionando “sob judice”. As regras e procedimentos devem ser suficientemente claros, universais e com prazos e custos definidos. Os negócios não podem depender da “boa vontade”, “do conhecimento” de tal ou qual servidor ou autoridade pública para iniciar sua instalação.

Há muito tempo, Marcos Cintra Albuquerque, hoje, secretário do trabalho da capital paulista, atribuía a simplicidade da oneração das operações financeiras (imposto único), em troca da extinção do amontoado contábil e o deslocamento dos arrecadadores públicos para a verificação das contas suspeitas como a de traficantes, contrabandistas e contraventores. Ele não conseguiu convencer quem manda no país, a simplicidade desse ato. Desarmaria interesses seculares e traria transparência notável para as operações de arrecadação. Estariam todos transparentes frente ao Fisco, como deve ser em um regime democrático e republicano. Quanto às exportações, estariam desoneradas do imposto único e poderíamos acelerar nosso crescimento.

3. Os encargos sociais – de nossa folha de pagamento atinge uma importante parcela dos custos operacionais de uma empresa. Cada trabalhador e empresário contribui com valores expressivos à burocracia da previdência. A cada R$ 100,00 de salário, o conjunto empresário-trabalhador acrescenta mais R$ 89,00 a R$ 103,00, conforme a apropriação dos custos que queira escolher. Se esses volumes garantissem a nós, uma aposentadoria tranqüila, um atendimento público de saúde satisfatório, o treinamento constante dos trabalhadores e a segurança do emprego, talvez, valessem o custo.

Porém, a verdade é que o setor produtivo (empresários e trabalhadores) não se beneficia no aspecto público da universalidade de seus direitos. São os deveres mais custosos da nossa produção. Os empresários e seus trabalhadores sustentam, além de sua medíocre aposentadoria, a integralidade da aposentadoria do serviço público. É justo? Estamos todos os dias matando nossas galinhas dos ovos de ouro, quando abrimos nossas fábricas, mineradoras e as atividades do agronegócio. “Fazemos negócios para a China”. Faria muito bem ao país, desonerar as folhas de pagamento, onerar o consumo, reduzir juros e a burocracia pública, diminuir os encargos sociais como, também, os intermediários, privados das exigências fiscais e parafiscais.

Ronaldo Bianchi

Quando terminei o artigo anterior sobre o desenvolvimento brasileiro, indiquei o ordenamento do dólar como primeira medida. Precisamente, o alvo é desvalorizar o Real frente ao Dólar, cotado, há meses, entre R$ 1,60 – R$ 1,66 por US$ 1.00. Mantida essa situação, continuamos a abrir nossas portas à especulação financeira, à destruição da indústria de manufatura, ao empobrecimento da agricultura de exportação e à redução dos salários das áreas de melhor remuneração. A pergunta que fica no ar é: para quem interessa o dólar a R$ 1,60? Por que não se toma decisões para ampliar a nossa capacidade industrial ou para dirigir os recursos no sentido de modernizar nossa infraestrutura?

Para valorizar o Real, o governo federal deveria:

1. Aumentar as alíquotas de importação para bens industriais em todas as frentes de bens de consumo, ficando fora os bens industriais.

2. Taxar as remessas internacionais dirigidas à especulação financeira e, da mesma forma, ampliar gradativamente a taxação até que o valor do dólar voltasse a um patamar superior a R$ 2,00.

3. Criar uma alíquota para exportação de commodities não desvalorizadas. Não seria difícil regular sua flexibilidade. Como são itens cotados em bolsa com valor futuro, manobrar as alíquotas para cima ou para baixo, dados os instrumentos atuais, teria sua eficácia garantida.

4. Ampliar o prazo de saída de capital especulativo. O dólar, nas condições atuais (real apreciado e governo titubeante), interessa: a) às tesourarias dos bancos que cobram pelos seus serviços, às aplicações em empréstimos de curto prazo em bolsa de valores, a capital de giro e títulos do governo; b) aos importadores de bens de consumo das áreas têxtil, de calçados e de montadoras de veículos, que escolheram o Brasil por sua estabilidade política, jurídica, regulatória, além, é claro, de um mercado em expansão.

5. Reduzir a taxa Selic.
Por que não usamos a poupança externa para expandir nossa capacidade de infraestrutura? A resposta é simples: todos os agentes com essa capacidade não acreditam que o dólar irá permanecer com essa cotação a longo prazo. Acreditam que o real está artificialmente valorizado. Endividar-se em dólar sem estar “assegurado” por alguma operação garantidora (hedge), seria sofrer um golpe negativo relevante quanto às expectativas de resultado de seus investimentos.

Se não desvalorizarmos o real:

1. Destruiremos empregos industriais que exigem um investimento expresso em cada um deles (mais de R$ 100 mil por unidade).

2. Ofereceremos nossos empregos aos asiáticos, sem, ao menos, ganhar nada em troca (taxa de importação superior à atual).

3. Adiaremos nossos investimentos em infraestrutura sem prazo determinado, comprometendo o que restará da nossa indústria e agricultura, que ainda resistem.

4. Comprometeremos os ganhos com a exportação de nossos produtos agrícolas.

5. O governo criará condições para que haja uma taxa inflacionária maior pelo lado do custeio, e não mais pela demanda.

Ronaldo Bianchi

O Brasil apresenta uma característica peculiar sob o aspecto político: o adesismo ao governo de plantão é uma constante, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Nosso Congresso Nacional apresenta um exemplo expressivo dessa característica, dos 520 representantes, 80 deles são de oposição, ou seja, não há oposição. São 13% contra 87% de adesistas ou membros da coligação, o que significa que qualquer demanda do executivo será aprovada sem muita luta. A derrota do Código Florestal, votado num período de ressaca, foi exceção no Planalto. O PMDB de Temer e o PR de Costa Neto estavam às turras com o executivo, por não aceitarem o início da faxina. Esse deveria ser o tema central para os próximos meses: a faxina. Até agora, esse procedimento partiu de fora para dentro, por meio de acusações e delações oriundas de inimigos internos, do mesmo partido. Partem de facções descontentes, amparadas na verdade dos fatos, com a ressonância da imprensa e apoio popular.

Caso o Planalto adote uma postura de protagonista, a confiabilidade dos formadores de opinião e da opinião pública crescerá muito, podendo oferecer um quadro antecipado de êxito para o Planalto nas eleições municipais de 2012. Esse cenário garantiria uma importante vantagem para as eleições de 2014. Nesse caso, as grandes cidades e capitais estariam à mão da atual coalizão governista, estreitando ainda mais os planos da oposição.

Caso o governo continue a reboque das acusações que partem dos seus andares inferiores, a credibilidade da presidente estará em xeque, diminuindo a possibilidade de uma histórica vitória dos partidos do governo federal no próximo pleito e, com certeza, a volta de Lula ao centro do cenário em 2014 será irreversível.

Com ele, retornarão as condutas: “é dando que se recebe”, “passar a mão nas cabeças mais indigestas”, “perdoar os pecadores passados, garantindo seu futuro”. É dele, a herança do mensalão, a tentativa de censura à mídia e o aumento de custo da máquina pública. Portanto, o seu retorno à cena reforçará os enganos e desvios. A oposição brasileira deveria iniciar uma campanha esclarecedora do desmazelo da era Lula, e preparar a opinião pública para um cenário de uma longa crise econômica internacional. Não será com o retorno do “Beato Salu”, que nos salvaremos.
Nos próximos três anos e meio, precisaremos:

1. Depreciar o real ao nível de indiferença entre importação e exportação, fugindo do que se constata ser o maior aniquilamento histórico da indústria nacional e do emprego. Denominamos como a batalha contra a doença holandesa (a venda do gás holandês à Europa lhe rendeu tantas reservas que sua moeda foi apreciada a tal ponto que destruiu a indústria local).

2. Criar condições necessárias à proteção de nossas fronteiras, riquezas minerais e dos mananciais de água. Seremos uma nação de segunda categoria se negarmos as condições de ataque ao crime organizado, ao contrabando e à invasão territorial de potências e interesses estrangeiros. Diga-se, essa invasão não será primordialmente militar, mas econômica: compra de terras, jazidas e autorização de exploração por meio de “laranjas”, e assim por diante.

3. Criar a condição de poupança, reduzindo o custeio da máquina para aplicação de recursos, visando a melhora da condição de vida de nossos cidadãos quanto a: educação em todos os níveis, habitação, transporte urbano, saneamento básico e saúde.

4. Debelar o custo Brasil em todas as suas frentes: melhoria das vias para exportação, redução de exigências burocráticas para exportação, reformulação da cadeia de impostos para a indústria brasileira e desoneração da folha de pagamento de nossas empresas e instituições.

Parece pouco se exposto em itens, porém é muito difícil de ser realizado sem um amplo apoio dentro e fora das esferas de governo.

Ronaldo Bianchi

O Brasil apresenta uma característica peculiar sob o aspecto político: o adesismo ao governo de plantão é uma constante, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Nosso Congresso Nacional apresenta um exemplo expressivo dessa característica, dos 520 representantes, 80 deles são de oposição, ou seja, não há oposição. São 13% contra 87% de adesistas ou membros da coligação, o que significa que qualquer demanda do executivo será aprovada sem muita luta. A derrota do Código Florestal, votado num período de ressaca, foi exceção no Planalto. O PMDB de Temer e o PR de Costa Neto estavam às turras com o executivo, por não aceitarem o início da faxina. Esse deveria ser o tema central para os próximos meses: a faxina. Até agora, esse procedimento partiu de fora para dentro, por meio de acusações e delações oriundas de inimigos internos, do mesmo partido. Partem de facções descontentes, amparadas na verdade dos fatos, com a ressonância da imprensa e apoio popular.

Caso o Planalto adote uma postura de protagonista, a confiabilidade dos formadores de opinião e da opinião pública crescerá muito, podendo oferecer um quadro antecipado de êxito para o Planalto nas eleições municipais de 2012. Esse cenário garantiria uma importante vantagem para as eleições de 2014. Nesse caso, as grandes cidades e capitais estariam à mão da atual coalizão governista, estreitando ainda mais os planos da oposição.

Caso o governo continue a reboque das acusações que partem dos seus andares inferiores, a credibilidade da presidente estará em xeque, diminuindo a possibilidade de uma histórica vitória dos partidos do governo federal no próximo pleito e, com certeza, a volta de Lula ao centro do cenário em 2014 será irreversível.

Com ele, retornarão as condutas: “é dando que se recebe”, “passar a mão nas cabeças mais indigestas”, “perdoar os pecadores passados, garantindo seu futuro”. É dele, a herança do mensalão, a tentativa de censura à mídia e o aumento de custo da máquina pública. Portanto, o seu retorno à cena reforçará os enganos e desvios. A oposição brasileira deveria iniciar uma campanha esclarecedora do desmazelo da era Lula, e preparar a opinião pública para um cenário de uma longa crise econômica internacional. Não será com o retorno do “Beato Salu”, que nos salvaremos.
Nos próximos três anos e meio, precisaremos:

1. Depreciar o real ao nível de indiferença entre importação e exportação, fugindo do que se constata ser o maior aniquilamento histórico da indústria nacional e do emprego. Denominamos como a batalha contra a doença holandesa (a venda do gás holandês à Europa lhe rendeu tantas reservas que sua moeda foi apreciada a tal ponto que destruiu a indústria local).

2. Criar condições necessárias à proteção de nossas fronteiras, riquezas minerais e dos mananciais de água. Seremos uma nação de segunda categoria se negarmos as condições de ataque ao crime organizado, ao contrabando e à invasão territorial de potências e interesses estrangeiros. Diga-se, essa invasão não será primordialmente militar, mas econômica: compra de terras, jazidas e autorização de exploração por meio de “laranjas”, e assim por diante.

3. Criar a condição de poupança, reduzindo o custeio da máquina para aplicação de recursos, visando a melhora da condição de vida de nossos cidadãos quanto a: educação em todos os níveis, habitação, transporte urbano, saneamento básico e saúde.

4. Debelar o custo Brasil em todas as suas frentes: melhoria das vias para exportação, redução de exigências burocráticas para exportação, reformulação da cadeia de impostos para a indústria brasileira e desoneração da folha de pagamento de nossas empresas e instituições.

Parece pouco se exposto em itens, porém é muito difícil de ser realizado sem um amplo apoio dentro e fora das esferas de governo.

Ronaldo Bianchi

Como vemos a liderança dos países e o cenário internacional?

1. Quanto aos países de longa tradição democrática:

As atuais lideranças surgiram a partir de desvios (fast track) que os modelos eletivos propiciam: quando não exigem dos seus candidatos, experiências parlamentares expressivas ou a ocupação de cargos executivos anteriores. Assim, os Estados Unidos elegeram Obama, que galgou o cargo presidencial após curto período no Senado (menos de oito anos), Sarkosy (França), Merkel (Alemanha), Zapateiro (Espanha), Berlusconi (Itália), Cameron (Inglaterra) e Naoto Kan (Japão). Os líderes europeus citados são hábeis políticos com especialidade em liderança no traquejo intra-partidário. Porém, sem característica de liderança regional e muito aquém de uma expressividade mundial.

2. A democracia à sul-americana:

O que significa, para você, os nomes: Hugo Chaves (Venezuela), Eduardo Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia), José Mujica (Uruguai), Fernando Lugo (Paraguai), Alejandro Toledo (Peru)?
Não soa uma esquerda à guerra fria, agora empoderada?
E quanto aos nomes de Cristina Kirshner (Argentina), Sebastian Piñera (Chile), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Dilma Roussef (Brasil)? Reúnem características de estadista?

3. Países sob democracia recente:

No caso de países onde a democracia ainda está “amadurecendo”, como a Rússia de Putin (ex-agente da KGB – polícia secreta russa). Guardadas as devidas proporções, se Putin fosse brasileiro, teria sido o chefe do Serviço Nacional de Informações da época da ditadura e, agora, nosso presidente. Há outros exemplos como o Paquistão, onde até pouco tempo, um ditador militar dava as ordens. Iraque, Afeganistão, Egito, entre outros, estão iniciando uma retomada ou distanciando-se do peso das ditaduras explícitas ou disfarçadas.
Não podemos esperar muito discernimento e tolerância nesse conjunto de “mandatários”.

4. Países monarquistas, sem tradição democrática:

A Arábia Saudita é parte desse conjunto de países, onde as monarquias locais se instalaram no passado, por meio de “revoluções”, e dominam a sua economia até o presente. Marrocos e Jordânia são mais dois exemplos. Como são pró-ocidentais fecham-se os olhos para as suas fragilidades.

5. Países não-democráticos:

A China lidera os países onde a democracia não existe. A liberdade individual não é respeitada, a linha de conduta é ditada e a desobediência é punida através de prisões e execuções sumárias. Nessa condição estão: Líbia, Síria, Iêmen, Coréia do Norte e Cuba. Nesses países, os contratos entre pessoas e empresas são tutelados pelo Estado. As pessoas físicas e jurídicas são submetidas a um ditame governamental, onde não existe liberdade para os negócios, mobilidade demográfica e a internet é censurada.

6. Países Africanos e Asiáticos em ebulição:

Chade, Nigéria, República dos Camarões, Libéria, Filipinas, Vietnã, Tailândia entre outros. Todos se debatem entre uma ditadura disfarçada, por meio de um sistema eleitoral acostumado a sucessivas fraudes, e com suas estruturas de governo a mercê do general da vez.

7. O Não-Estado:

A Somália é a síntese da desagregação do Estado e da pulverização da nacionalidade, reduzida a uma luta de gangues pela supremacia local, com a intenção de espoliar os mais fracos.

Dentro dessa visão geopolítica, as forças individuais e as lideranças presentes parecem insuficientes para superar a complexidade de problemas que o planeta exige para que suas condições sejam preservadas, seja no aspecto econômico ou físico.
No aspecto econômico, não há solução sem um disciplinamento contratado mundialmente. Quanto ao aspecto físico, como crescer sem destruir as condições de vida do planeta: preservação da água doce, preservação da qualidade do ar, redução da emissão de carbono, garantia das reservas de fauna e flora e diminuição da temperatura global?

Acredito que entraremos num prolongado período recessivo ou de estagnação econômica. As cartas foram dadas há tempos, quando os processos políticos elegeram e mantiveram no poder, líderes inaptos para debelar os profundos desequilíbrios e superar os desafios que o próprio sistema provocou.

Ronaldo Bianchi

A semana passada confirmou o aprofundamento da crise. Ela começou com o blefe do Congresso Americano, emparedando o seu presidente. A crítica chinesa desse final de semana ao endividamento americano revela a preocupação de seu maior credor. A China passará a exigir maior esforço do governo americano no sentido de evitar que seus ativos (chineses) não se pulverizem nessa crise.

A forma do tratamento do Congresso Americano para com o poder executivo é uma demonstração da fragilidade do planejamento macro econômico daquela nação, apesar de deter o maior número mundial de doutores em economia por universidade. Por que isso aconteceu? Existe uma impermeabilização entre os poderes, e mesmo dentro do executivo, falta discernimento e vontade de ouvir o que está acontecendo nas ruas. Quando o endividamento supera a capacidade do devedor quanto ao pagamento dos juros de sua dívida, é reconhecidamente o pior estágio de uma economia. Há tempos, os governos de países europeus e o governo americano exigiram que os países latino-americanos recorressem ao Fundo Monetário Internacional, mas com qual propósito? Garantir que seus ativos europeus e americano fossem preservados por meio de manobra financeira, pela qual os países latinos, aos quais nos incluímos, repassassem os recursos do FMI aos credores. Resultado: endividamo-nos, ainda mais, para honrar nossos débitos. Além disso, nos foi exigido: reformulação orçamentária, redução de custeio governamental e aumento nas receitas fiscais. Conseguimos passar por isso com elevado custo social e a desindustrialização dos países devedores.

Agora, são os países com longa tradição de poder econômico, que se encontram com seus fundamentos e indicadores econômicos em cheque, às voltas com a falta de credibilidade. A Europa apresenta o maior número de países em estágio de alerta, de Portugal à Grécia. Resta, com ressalvas, a França e, sem ressalvas, a Alemanha.

Há lições a aprender com essa crise: 

1. Não há milagre na economia contemporânea, um déficit nacional pode se descontrolar diante de qualquer crise em outro país. Ou seja, a interdependência entre as economias, os investidores e as empresas é uma realidade. Vivemos a economia globalizada para o bem e para o mal.

2. O mundo político deve ser monitorado por agências e bancos centrais independentes. Caso contrário, a continuidade e aprofundamento será a realidade para os próximos anos.

3. A liderança política hesitante dessas nações tão antigas supera a representatividade de sua elite acadêmica. O conhecimento acadêmico adquirido é superado pela ação política irresponsável ou leniente da esfera política.

4. A comunicação precária entre os entes econômicos, a liderança política e a comunidade está entre as principais causas dessa crise que se desdobra desde 2008.

5. As representações políticas locais não estão dando conta em debelar seus cenários ruins porque lhes falta: coragem de dar más notícias, praticar um orçamento responsável e evitar guerras econômicas entre as nações.

Enquanto no Brasil, o governo Dilma ensaia uma depuração dos quadros lenientes e parece decidido a manter os indicadores econômicos saudáveis (inflação, juros, câmbio, endividamento interno e externo e crescimento econômico). Precisamos apoiar essa postura quando necessário, e exigir, sempre, ações corretivas para um rumo melhor. O país tem um histórico de capacidade de superar crises internas e externas, mas ainda precisa melhorar muito para que possamos ter tranqüilidade.

Ronaldo Bianchi

A saga pela aprovação do teto do endividamento americano nos traz alguns ensinamentos e muita preocupação. Quanto ao cenário político americano, vimos, pela primeira vez, a luta pelo poder executivo ocorrer à revelia do que seria o melhor para a América. Explico: o endividamento daquele país é algo preocupante faz muito tempo, porém é inexplicável o endurecimento do Congresso às vésperas da eleição presidencial de 2012. Talvez, essa seja a explicação: não há preocupação dos políticos com a percepção pública, a reputação e o zelo pela administração econômica dos Estados Unidos, muito menos com os seus reflexos na economia mundial. O partido Republicano está interessado na volta ao poder em 2013, seja qual for o custo a ser pago para atingir esse propósito.

A atitude do Senado Americano representa o pior momento da história política daquele país. Há tempos, os congressistas poderiam estabelecer uma discussão construtiva para a resolução do impasse, mas preferiram, de forma discutível sob o aspecto ético, encurralar o atual presidente nos momentos finais de sua aprovação. Portanto, quanto ao exemplo do congresso americano, fica a imagem de políticos oportunistas e inconseqüentes. Por outro lado, o exemplo do presidente norte americano e seu ministério, é também ruim. Sendo os Estados Unidos o país do ensino da administração, fica a dúvida sobre a competência e a capacidade propositiva do poder executivo americano, que está reagindo a um enquadramento legislativo, nada pior para sua imagem pública.

Por que o executivo deixou de apresentar um programa de ajustamento econômico a longo prazo? Creio que a intolerância política do congresso foi provocada pela fragilidade propositiva do executivo. Obama perdeu seu valor para a próxima eleição, o legislativo americano foi percebido como oportunista e o mundo econômico “tremeu” nas bases, o que poucas vezes ocorreu em nossa história contemporânea. A credibilidade americana está indo para o fundo do poço com esses maus exemplos.

E o Brasil diante disso? Aprenderá? Nosso executivo será proativo ou reativo?
Creio que o poder executivo deveria dar o primeiro passo no sentido de propor reformas, alterar métodos, normatizar e controlar no sentido de alcançar patamares gerenciais bem distantes da imagem atual (incompetência gerencial envolta pela névoa de acusações de corrupção de todos os lados). O “mensalão” parecerá “fichinha” se nós continuarmos a oferecer postos executivos aos prepostos dos partidos aliados e ao próprio PT sem exigir a qualificação técnica e o histórico pessoal dos ocupantes. É uma boa hora para a Virada do Crescimento. As forças produtivas do país precisam pressionar para obter a reforma tributária, fiscal e política, desonerar as folhas de pagamento, acelerar a reforma dos corredores de exportação (tanto no sentido de infra-estrutura como da legislação pertinente), exigir maior eficiência do custeio da máquina pública e de seus investimentos. Teríamos que investir na melhoria do quadro de funcionários públicos e das agências de controle.

Caso o executivo consiga arremeter a percepção de desleixo e loteamento político dos aparelhos públicos, será popularmente apoiado.

Ronaldo Bianchi

Estamos assistindo uma disputa societária entre os maiores grupos empresariais do varejo brasileiro em busca de sua hegemonia. De um lado está o Pão de Açúcar que deseja trocar de sócio francês, passando a ser sócio do Carrefour no Brasil, em lugar do seu atual sócio francês Casino. Essa troca beneficiará o Pão de Açúcar, formando-se uma hegemonia no sudeste com quase 70% de participação. Quanto ao Casino, voltará para a França com o rabo entre as pernas (se sobrar alguma). Agora, se ganhar, a onça francesa beberá água do Pão de Açúcar. A operação é favorável ao Carrefour, que vive dias difíceis. Quais são as condições decisivas para o sucesso? Quem, realmente, sairá ganhando? Quem perderá com a união entre Pão de Açúcar e Carrefour?

As condições decisivas baseiam-se em como o Pão de Açúcar e o Casino tratarão:

a) O distrato, amigável ou não, das operações e participações. Caso haja uma disputa jurídica nos tribunais, ambos perderão. A vitória jurídica levará anos para ser resolvida e o contencioso enfraquecerá a organização. Dispersarão as forças do crescimento, caminhando para uma paralisia organizacional.

b) A conduta dessa transição deveria ser conduzida por uma nova diretoria e conselho mais próximos do mercado e eqüidistantes dos atuais sócios.

c) Caso nada se altere: desatenção e vácuo operacional causarão desarranjos organizacionais, enfraquecendo resultados e reduzindo o valor da organização.
A aplicação de cuidados com a organização deve focar resultados positivos. Os litigantes deveriam tratar a organização como o filho num processo de divórcio. No contexto: quem ama preserva.

As lideranças do grupo e os sócios deveriam, nesse instante, acelerar seus entendimentos fora da cena dos meios de comunicação. Nenhum deles ganhará. Creio que os atuais atores perderam credibilidade. São vistos como oportunistas:

a) Não ficou bem para o Pão de Açúcar sair à frente para romper um contrato que no futuro lhe seria desfavorável, tendo aceito as condições a priori.

b) Tampouco lhe caiu bem recorrer ao BNDES, banco oficial brasileiro para o desenvolvimento econômico e social. Por quê? Aquele banco está voltado às ações para criar valor ao país, e não para servir a um “takeover” societário sem resultado relevante para a população brasileira. Nesse caso, teria sido conveniente recorrer a um pool de bancos privados.

c) Pareceu falta de consideração e oportunismo quando nenhum dos litigantes garantiu um padrão ético e justo de comportamento ao mercado de ações, aos colaboradores, fornecedores e clientes.

Caso não ocorra a união entre Pão de Açúcar e Carrefour, os acionistas herdarão uma empresa a ser revitalizada. Do lado do Pão de Açúcar, as relações internas estarão negativamente abaladas. Enquanto que do lado do Carrefour, a situação estará inalterada, apesar de um histórico recente de maus desempenhos mal explicados. Cabe aqui refletir se suas operações no Brasil não mudariam para mãos americanas.

Todos os especialistas de varejo são unânimes em afirmar que os clientes e fornecedores serão os prejudicados. Ganhariam os acionistas do Pão de Açúcar e do Carrefour brasileiro. Fica a dúvida sobre o destino dos colaboradores das duas empresas.

A liderança do Sr. Abílio Diniz é reconhecida como determinada a alcançar resultados. Porém, essa atitude agressiva o coloca em xeque.

O governo brasileiro, a priori, apoiou o Pão de Açúcar a favor do distrato com o Casino e a sua união com o Carrefour. Qual o motivo? Aparentemente, pelo fato do crescimento constante da empresa americana Walmart no Brasil. Porém, pressionado pelas forças conjuntas da opinião pública e da imprensa, recuou e enxergou que o BNDES não poderia financiar uma operação de transferência patrimonial sem geração de riqueza.

Uma liderança de sucesso deveria, a princípio, afinar seus instrumentos de comunicação antes do início de operações de descarte como essa. O Pão de Açúcar acreditou no governo, na avaliação favorável da imprensa e dos analistas de mercado. Seria um bom presente de Papai Noel, porém o que ganhou foi um futuro incerto.

Qual a receita para melhorar essa situação? 

1. O Pão de Açúcar deveria reverter a sua imagem de oportunista.
2. O Casino deveria rever sua intransigência estratégica e repensar sua relação.
3. O Carrefour deveria mostrar que é uma empresa renovada, com resultados positivos e uma consolidada mudança de imagem de governança corporativa.

Quem ganhará? Quem ganhará espaço é o Walmart, sem brigas internas, com infinito fôlego financeiro, poderá comprar todos os espaços disponíveis, atuais e futuros. Erros de avaliação ocorrem, mas a guerra pela hegemonia do mercado varejista brasileiro não acabou e será difícil.

Estamos assistindo um exemplo de quando a esperteza come o dono.

Ronaldo Bianchi