Quando escrevi o artigo anterior sobre sucessão em empresas familiares, não havia sido publicada a fraude nas operações do Banco Panamericano.

Vou explorar um pouco essa situação constrangedora para autoridades bancárias, mercado financeiro, empresas de auditoria, funcionários e dirigentes não envolvidos. Almejo a revelação integral, seguida de punição dos culpados. É o mínimo que o governo e o empresariado financeiro devem nos oferecer.

Em primeiro lugar, não se trata de uma crise sistêmica como a incorrida no caso do Banco Marka e Fontecindam. Por quê? O sistema financeiro nacional não corre risco de insolvência. A crise poderia ter implodido o banco, e somente ele na figura de seus acionistas e correntistas. Não havia como não há até o momento, nenhum outro banco envolvido. A fraude descapitalizou o banco Panamericano e só.

Quais são os panoramas possíveis? Um já ocorreu: o fundo garantidor abasteceu o Panamericano de recursos para enfrentar a inadimplência imediata, no sentido de evitar o pânico dos depositantes (correntistas).

O controlador, Senor Abravanel, deu em garantia todos os seus bens e participações em outras empresas. Ganhou dez anos para desmobilizá-los, recuperar o banco e devolver o empréstimo ao fundo. O segundo panorama é a recuperação das organizações SS.

Para uma pessoa de 79 anos, ativa e cumpridora de seus deveres foi uma traulitada e tanto. Anos de empenho coletivo, podendo acabar em pó. Ele deve se perguntar: o que aconteceu?

Essa ocorrência evidencia que nenhuma empresa está a salvo de um revés ou até de vários. No caso de Abravanel, crise não combina com seu perfil. Conta a lenda que um dia ao chegar em casa, uma senhora o abordou, declarando-se sua cliente na empresa de seguro-saúde. Revelou a situação de seu filho, que se encontrava entre a vida e a morte, internado em um hospital que se negava a aceitar o convênio médico. Abravanel, sem titubear, fez dois telefonemas: o primeiro para o diretor de sua empresa de seguro, exigindo que o hospital cumprisse as cláusulas contratuais ou pagaria do próprio bolso pelo atendimento imediato do jovem. O segundo telefonema foi para o presidente de suas empresas, exigindo que a seguradora fosse vendida no dia seguinte, ao preço que fosse. Quando argüido do porquê, foi ao ponto: “não quero ter em minha biografia, a responsabilidade pela morte de ninguém. A imprensa iria me esmagar no primeiro óbito discutível, por conseqüência, eu perderia a confiabilidade da freguesia”.

Abravanel estava correto. Saberemos em breve qual o conjunto de ações que selarão o destino do Grupo SS. Abravanel é um patrão destemido, irá atrás daqueles que o lesaram. A sorte poderá bater mais uma vez em seus ombros, retornando tudo à normalidade. Será uma nova vida, uma dádiva. Deverá, como um doente recuperado, praticar novos métodos, mais contidos, menos impulsivos. Em outras palavras, mais estratégico e menos operacional.

Fica para o Sr. Abravanel caminhar mais seguro. Acreditar no processo participativo, nos sinais de perigo (eles existiram), nos sistemas de denúncia e de acompanhamento, livrando-se daqueles que não o alertaram.

O terceiro panorama é a liquidação das empresas, fato angustiante e indesejável. O personagem Sílvio Santos não merece esse fim, nem o seu criador, Senor Abravanel.

Boa sorte aos que trabalharão para recuperar o prestigiado Grupo SS e ao sistema brasileiro de auditoria bancária.

Ronaldo Bianchi

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