A saga pela aprovação do teto do endividamento americano nos traz alguns ensinamentos e muita preocupação. Quanto ao cenário político americano, vimos, pela primeira vez, a luta pelo poder executivo ocorrer à revelia do que seria o melhor para a América. Explico: o endividamento daquele país é algo preocupante faz muito tempo, porém é inexplicável o endurecimento do Congresso às vésperas da eleição presidencial de 2012. Talvez, essa seja a explicação: não há preocupação dos políticos com a percepção pública, a reputação e o zelo pela administração econômica dos Estados Unidos, muito menos com os seus reflexos na economia mundial. O partido Republicano está interessado na volta ao poder em 2013, seja qual for o custo a ser pago para atingir esse propósito.

A atitude do Senado Americano representa o pior momento da história política daquele país. Há tempos, os congressistas poderiam estabelecer uma discussão construtiva para a resolução do impasse, mas preferiram, de forma discutível sob o aspecto ético, encurralar o atual presidente nos momentos finais de sua aprovação. Portanto, quanto ao exemplo do congresso americano, fica a imagem de políticos oportunistas e inconseqüentes. Por outro lado, o exemplo do presidente norte americano e seu ministério, é também ruim. Sendo os Estados Unidos o país do ensino da administração, fica a dúvida sobre a competência e a capacidade propositiva do poder executivo americano, que está reagindo a um enquadramento legislativo, nada pior para sua imagem pública.

Por que o executivo deixou de apresentar um programa de ajustamento econômico a longo prazo? Creio que a intolerância política do congresso foi provocada pela fragilidade propositiva do executivo. Obama perdeu seu valor para a próxima eleição, o legislativo americano foi percebido como oportunista e o mundo econômico “tremeu” nas bases, o que poucas vezes ocorreu em nossa história contemporânea. A credibilidade americana está indo para o fundo do poço com esses maus exemplos.

E o Brasil diante disso? Aprenderá? Nosso executivo será proativo ou reativo?
Creio que o poder executivo deveria dar o primeiro passo no sentido de propor reformas, alterar métodos, normatizar e controlar no sentido de alcançar patamares gerenciais bem distantes da imagem atual (incompetência gerencial envolta pela névoa de acusações de corrupção de todos os lados). O “mensalão” parecerá “fichinha” se nós continuarmos a oferecer postos executivos aos prepostos dos partidos aliados e ao próprio PT sem exigir a qualificação técnica e o histórico pessoal dos ocupantes. É uma boa hora para a Virada do Crescimento. As forças produtivas do país precisam pressionar para obter a reforma tributária, fiscal e política, desonerar as folhas de pagamento, acelerar a reforma dos corredores de exportação (tanto no sentido de infra-estrutura como da legislação pertinente), exigir maior eficiência do custeio da máquina pública e de seus investimentos. Teríamos que investir na melhoria do quadro de funcionários públicos e das agências de controle.

Caso o executivo consiga arremeter a percepção de desleixo e loteamento político dos aparelhos públicos, será popularmente apoiado.

Ronaldo Bianchi

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