A semana passada confirmou o aprofundamento da crise. Ela começou com o blefe do Congresso Americano, emparedando o seu presidente. A crítica chinesa desse final de semana ao endividamento americano revela a preocupação de seu maior credor. A China passará a exigir maior esforço do governo americano no sentido de evitar que seus ativos (chineses) não se pulverizem nessa crise.

A forma do tratamento do Congresso Americano para com o poder executivo é uma demonstração da fragilidade do planejamento macro econômico daquela nação, apesar de deter o maior número mundial de doutores em economia por universidade. Por que isso aconteceu? Existe uma impermeabilização entre os poderes, e mesmo dentro do executivo, falta discernimento e vontade de ouvir o que está acontecendo nas ruas. Quando o endividamento supera a capacidade do devedor quanto ao pagamento dos juros de sua dívida, é reconhecidamente o pior estágio de uma economia. Há tempos, os governos de países europeus e o governo americano exigiram que os países latino-americanos recorressem ao Fundo Monetário Internacional, mas com qual propósito? Garantir que seus ativos europeus e americano fossem preservados por meio de manobra financeira, pela qual os países latinos, aos quais nos incluímos, repassassem os recursos do FMI aos credores. Resultado: endividamo-nos, ainda mais, para honrar nossos débitos. Além disso, nos foi exigido: reformulação orçamentária, redução de custeio governamental e aumento nas receitas fiscais. Conseguimos passar por isso com elevado custo social e a desindustrialização dos países devedores.

Agora, são os países com longa tradição de poder econômico, que se encontram com seus fundamentos e indicadores econômicos em cheque, às voltas com a falta de credibilidade. A Europa apresenta o maior número de países em estágio de alerta, de Portugal à Grécia. Resta, com ressalvas, a França e, sem ressalvas, a Alemanha.

Há lições a aprender com essa crise: 

1. Não há milagre na economia contemporânea, um déficit nacional pode se descontrolar diante de qualquer crise em outro país. Ou seja, a interdependência entre as economias, os investidores e as empresas é uma realidade. Vivemos a economia globalizada para o bem e para o mal.

2. O mundo político deve ser monitorado por agências e bancos centrais independentes. Caso contrário, a continuidade e aprofundamento será a realidade para os próximos anos.

3. A liderança política hesitante dessas nações tão antigas supera a representatividade de sua elite acadêmica. O conhecimento acadêmico adquirido é superado pela ação política irresponsável ou leniente da esfera política.

4. A comunicação precária entre os entes econômicos, a liderança política e a comunidade está entre as principais causas dessa crise que se desdobra desde 2008.

5. As representações políticas locais não estão dando conta em debelar seus cenários ruins porque lhes falta: coragem de dar más notícias, praticar um orçamento responsável e evitar guerras econômicas entre as nações.

Enquanto no Brasil, o governo Dilma ensaia uma depuração dos quadros lenientes e parece decidido a manter os indicadores econômicos saudáveis (inflação, juros, câmbio, endividamento interno e externo e crescimento econômico). Precisamos apoiar essa postura quando necessário, e exigir, sempre, ações corretivas para um rumo melhor. O país tem um histórico de capacidade de superar crises internas e externas, mas ainda precisa melhorar muito para que possamos ter tranqüilidade.

Ronaldo Bianchi

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