Estamos assistindo uma disputa societária entre os maiores grupos empresariais do varejo brasileiro em busca de sua hegemonia. De um lado está o Pão de Açúcar que deseja trocar de sócio francês, passando a ser sócio do Carrefour no Brasil, em lugar do seu atual sócio francês Casino. Essa troca beneficiará o Pão de Açúcar, formando-se uma hegemonia no sudeste com quase 70% de participação. Quanto ao Casino, voltará para a França com o rabo entre as pernas (se sobrar alguma). Agora, se ganhar, a onça francesa beberá água do Pão de Açúcar. A operação é favorável ao Carrefour, que vive dias difíceis. Quais são as condições decisivas para o sucesso? Quem, realmente, sairá ganhando? Quem perderá com a união entre Pão de Açúcar e Carrefour?

As condições decisivas baseiam-se em como o Pão de Açúcar e o Casino tratarão:

a) O distrato, amigável ou não, das operações e participações. Caso haja uma disputa jurídica nos tribunais, ambos perderão. A vitória jurídica levará anos para ser resolvida e o contencioso enfraquecerá a organização. Dispersarão as forças do crescimento, caminhando para uma paralisia organizacional.

b) A conduta dessa transição deveria ser conduzida por uma nova diretoria e conselho mais próximos do mercado e eqüidistantes dos atuais sócios.

c) Caso nada se altere: desatenção e vácuo operacional causarão desarranjos organizacionais, enfraquecendo resultados e reduzindo o valor da organização.
A aplicação de cuidados com a organização deve focar resultados positivos. Os litigantes deveriam tratar a organização como o filho num processo de divórcio. No contexto: quem ama preserva.

As lideranças do grupo e os sócios deveriam, nesse instante, acelerar seus entendimentos fora da cena dos meios de comunicação. Nenhum deles ganhará. Creio que os atuais atores perderam credibilidade. São vistos como oportunistas:

a) Não ficou bem para o Pão de Açúcar sair à frente para romper um contrato que no futuro lhe seria desfavorável, tendo aceito as condições a priori.

b) Tampouco lhe caiu bem recorrer ao BNDES, banco oficial brasileiro para o desenvolvimento econômico e social. Por quê? Aquele banco está voltado às ações para criar valor ao país, e não para servir a um “takeover” societário sem resultado relevante para a população brasileira. Nesse caso, teria sido conveniente recorrer a um pool de bancos privados.

c) Pareceu falta de consideração e oportunismo quando nenhum dos litigantes garantiu um padrão ético e justo de comportamento ao mercado de ações, aos colaboradores, fornecedores e clientes.

Caso não ocorra a união entre Pão de Açúcar e Carrefour, os acionistas herdarão uma empresa a ser revitalizada. Do lado do Pão de Açúcar, as relações internas estarão negativamente abaladas. Enquanto que do lado do Carrefour, a situação estará inalterada, apesar de um histórico recente de maus desempenhos mal explicados. Cabe aqui refletir se suas operações no Brasil não mudariam para mãos americanas.

Todos os especialistas de varejo são unânimes em afirmar que os clientes e fornecedores serão os prejudicados. Ganhariam os acionistas do Pão de Açúcar e do Carrefour brasileiro. Fica a dúvida sobre o destino dos colaboradores das duas empresas.

A liderança do Sr. Abílio Diniz é reconhecida como determinada a alcançar resultados. Porém, essa atitude agressiva o coloca em xeque.

O governo brasileiro, a priori, apoiou o Pão de Açúcar a favor do distrato com o Casino e a sua união com o Carrefour. Qual o motivo? Aparentemente, pelo fato do crescimento constante da empresa americana Walmart no Brasil. Porém, pressionado pelas forças conjuntas da opinião pública e da imprensa, recuou e enxergou que o BNDES não poderia financiar uma operação de transferência patrimonial sem geração de riqueza.

Uma liderança de sucesso deveria, a princípio, afinar seus instrumentos de comunicação antes do início de operações de descarte como essa. O Pão de Açúcar acreditou no governo, na avaliação favorável da imprensa e dos analistas de mercado. Seria um bom presente de Papai Noel, porém o que ganhou foi um futuro incerto.

Qual a receita para melhorar essa situação? 

1. O Pão de Açúcar deveria reverter a sua imagem de oportunista.
2. O Casino deveria rever sua intransigência estratégica e repensar sua relação.
3. O Carrefour deveria mostrar que é uma empresa renovada, com resultados positivos e uma consolidada mudança de imagem de governança corporativa.

Quem ganhará? Quem ganhará espaço é o Walmart, sem brigas internas, com infinito fôlego financeiro, poderá comprar todos os espaços disponíveis, atuais e futuros. Erros de avaliação ocorrem, mas a guerra pela hegemonia do mercado varejista brasileiro não acabou e será difícil.

Estamos assistindo um exemplo de quando a esperteza come o dono.

Ronaldo Bianchi

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