Quando tratamos de previsibilidade, é muito importante ficar atento às possíveis políticas públicas ou a sua falta.

A política de juros e câmbio praticado pelo governo federal é fator relevante para as indústrias manufatureiras locais. É fácil perceber sua influência quando o cenário aponta para juros altos, real apreciado e inflação em alta. A indústria sofrerá nas vendas, acarretará em obsolescência do parque industrial e, portanto, perderá valor. Esse cenário foi comum em todas as crises dos anos 90. No governo Fernando Henrique a indústria brasileira sofreu grande desgaste e desajustes. Faltou crédito a longo prazo, para que as empresas brasileiras pudessem criar condições competitivas e sustentarem-se. Muitas delas fecharam ou faliram. Foi uma devastação, um período de alta volatilidade no desempenho das vendas e da lucratividade. O emprego na indústria foi reduzido, principalmente nos setores caracterizados pelo emprego de baixa tecnologia e mão-de-obra intensiva.

A indústria metalúrgica no setor de manufatura de alumínio sofreu muito nesse cenário. Naquele momento, as grandes empresas do setor iniciaram a sua consolidação e, por meio da liderança de mercado, a Panex fez valer seu protagonismo. As grandes marcas Panex, Penedo, Clock e Rochedo eram indústrias separadas e de origens diferentes. As três primeiras, brasileiras, e a última, uma subsidiária da Alcan (canadense). Em poucos anos, as quatro uniram-se em uma única que, logo depois, foi vendida para a maior empresa americana de manufatura de alumínio e aço. Cenário instável, volátil e sinuoso. A empresa voltou a ser propriedade brasileira quando o então presidente Ricardo Cury e seus diretores a compraram, já consolidada, dos americanos. Diga-se que Ricardo e seus irmãos eram os dirigentes da Panex e mentores da consolidação das maiores marcas de utilidades domésticas de alumínio. Uma história a ser contada.

A indústria têxtil sofria do mesmo mal da metalúrgica (baixo emprego de tecnologia e mão-de-obra intensiva), em outras palavras, a velocidade da máquina era inferior aos concorrentes internacionais, sofrendo, ainda, o alto custo das obrigações trabalhistas brasileiras em relação aos asiáticos. A indústria que mais se destacou nesse período foi a de José Alencar – Coteminas – por meio de uma estratégia vencedora: consorciando investimentos em tecnologia e endividamento a longo prazo, longe dos bancos comerciais. Criou uma das mais preparadas organizações a nível mundial. Conquistando posição singular na cadeia da manufatura: do fio à confecção. Todos os processos foram extensamente modernizados e verticalizados. A ousada estratégia deu certo pelos motivos já apontados, somando-se à criação de um espírito de equipe sólido, comandado por Josué Gomes da Silva, filho do fundador.

Foram dois exemplos de sucesso, apesar de um cenário de crise constante, mercado volátil, onde juros altos, real apreciado e invasão de artigos importados eram uma constante.

Ronaldo Bianchi

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